Marcio Coimbra

Márcio Coimbra escreve todas as quartas-feira em O TEMPO

Rumos da CPI

Publicado em: Qua, 28/04/21 - 03h00

Bolsonaro já tem uma CPI para chamar de sua. Desde a redemocratização, todos os governos passaram por escrutínios no Congresso Nacional. Não será a primeira nem a última vez. Enquanto isso, a velha máxima da política de Brasília segue assombrando o Planalto: todos sabem como uma CPI começa, mas nunca como termina. Resta saber como a base bolsonarista vai se comportar. Até aqui, não faltaram erros.

O presidente é um político intuitivo, porém pouco estratégico. Isso ficou claro na falta de articulação dentro do Congresso Nacional em seus anos no Planalto. Uma agenda econômica que nunca decolou, reformas que nunca saíram e derrotas sucessivas em outras votações marcaram o estilo errático de Bolsonaro. Vemos a mesma trilha se repetir no começo da CPI que vai investigar os erros na condução da pandemia.

Os riscos são grandes, uma vez que sem uma base sólida no Parlamento, Bolsonaro pode ser tragado pela falta de uma tropa de choque habilidosa e experiente. Desde o princípio, os problemas se acumularam, desde a ausência de articuladores para evitar a instalação da comissão, passando pelo vazamento de documentos com a estratégia a ser adotada pelo Planalto e chegando ao pedido de liminar trapalhão que visava evitar a escolha de um parlamentar opositor para o cargo de relator. Tudo errado.

Bolsonaro precisará trabalhar muito para evitar o pior, especialmente por este ser um governante semeador de desafetos, alguém que carrega a marca da ingratidão, especialista em tornar aliados em inimigos, uma prática que pode se tornar caminho perigoso durante investigações sensíveis. O leque de averiguações é enorme. Indicação do uso de cloroquina como tratamento precoce, as 11 oportunidades perdidas e documentadas de compra de vacinas para a população brasileira e um rosário de denúncias que devem ainda aterrissar nas mesas dos parlamentares.

Enquanto isso, 116 pedidos de impeachment se acumulam nos escaninhos da Câmara dos Deputados. Apenas nos quatro primeiros meses deste ano foram 57. A pressão está crescendo, e Bolsonaro pode ser tragado pela soma de acontecimentos nesta pandemia e pela falta de blindagem política real em sua defesa. Com a economia em descompasso, é aquilo que se chama de tempestade perfeita. Um acontecimento que já foi responsável por ceifar mandatos presidenciais na história recente.

A sorte de Bolsonaro é seu mandato estar no fim, e um impeachment neste momento não interessa a oposição, tampouco os postulantes ao cargo presidencial no próximo ano. O presidente cai somente se houver um fato arrebatador. Ainda assim, impeachment é um processo demorado, que leva no mínimo seis meses. Do contrário, a tendência é seguir sangrando com as investigações, seus desdobramentos, falta de vacinas, mortes e economia em desacerto. Chegaria perigosamente avariado para disputar 2022.

Os rumos da CPI são incertos, mas os elementos, listados pelo próprio governo, são contundentes e documentados. Será difícil enxergar vida fácil para o Planalto nestas investigações. Segundo aquela máxima, todos sabem como uma CPI começa, mas nunca como termina. Neste caso, temos uma certeza: não termina bem para Bolsonaro.

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