MÁRCIO COIMBRA

Terremoto político

Redação O Tempo

Por Da Redação
Publicado em 13 de março de 2017 | 03:00
 
 

Na semana em que Brasília esperava a nova lista de Rodrigo Janot, a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal causou calafrio nos políticos. O entendimento de que empresas envolvidas em atos de corrupção usavam de forma criminosa “propinas disfarçadas” como doação para campanhas eleitorais apertou o torniquete no mundo político. Se este entendimento se consolidar, especialmente pelo pleno do tribunal, o terremoto que atingirá o Congresso Nacional será de proporções jamais vistas.

Isto porque o número de parlamentares e partidos atingidos deve ser amplo. As empreiteiras envolvidas na Lava Jato financiaram grande parte do sistema político brasileiro. Geravam os recursos doados aos políticos por meio de atos ilícitos nas obras contratadas pelo governo. Um círculo que se fecha, mas financiado pelos pagadores de impostos. O entendimento do juiz Sérgio Moro é de que neste modelo, entre outros crimes, estão claros a corrupção e lavagem de dinheiro. O capítulo desta história, contado esta semana, mostra que o Supremo segue o mesmo entendimento de Curitiba.

Diante de uma delação da Odebrecht, que deve ser seguida pelas demais empreiteiras, Brasília enxerga estarrecida o que pode significar o maior golpe no sistema político tradicional. Com o foro privilegiado, os processos tendem a se arrastar, entretanto, a maior parcela desta turma enfrentará as urnas em 2018. Se não saírem vitoriosos, seus processos seguem para as mãos da justiça do Paraná. Enfim, o povo fará seu julgamento enquanto o mundo político buscará formas de salvar o próprio pescoço.

Os primeiros movimentos já surgiram e passam especialmente pelo projeto de anistia do caixa 2 para campanhas eleitorais. Contudo, a ideia dos parlamentares foi além: um pacote mais amplo, incluindo anistia a doações oficiais nos casos em que o dinheiro for considerado de fonte ilícita. Isto porque, depois do Mensalão, pareceu mais seguro receber o dinheiro ilícito “por dentro”, como caixa 1. Enfim, o raciocínio é simples. Se os parlamentares criam as leis que o judiciário usa para julgá-los, está nas mãos destes mesmos homens a chance de dobrar a aposta e mudar as regras do jogo.

Na política surge o entendimento que é preciso separar as coisas, ou seja, quem recebeu doações com origem em dinheiro ilícito por dentro, aqueles que receberam por fora e aqueles que enriqueceram por meio de corrupção. Para os procuradores de Curitiba e agora para o Supremo, não existe mais esta diferença. Por isso, a sensação de desespero. Entretanto, o que gera preocupação neste momento é o seguinte: com uma gama de políticos e partidos tão ampla envolvida, as chances de auto-blindagem do establishment se torna cada vez mais uma possibilidade real.

O processo de depuração pelo qual passa o Brasil é profundo e atingirá o mundo político em cheio, independente de ideologias, partidos ou líderes. O terremoto que abalará as estruturas da capital está apenas começando.