Marcio Garcia Vilela

Envelhecer não é triste porque é natural e escala para a sabedoria

Publicado em: Sáb, 30/07/16 - 03h00

Para intitular este artigo, tomei emprestado do grande mineiro Milton Campos um pedaço do conceito registrado pelo inesquecível homem público sobre a velhice em aula inaugural dos cursos da Universidade Federal de Minas Gerais proferida em 1º de março de 1966. Pareceu-me valioso transcrever a frase inteira, que revela a face do notável intelectual e político, arejada constantemente pela brisa suave de serenidade e tolerância de sua formação moral: “Envelhecer não é triste porque é natural. Envelhecimento, envilecimento. A aproximação fônica pode ser verdadeira no campo fisiológico. Mas, na área moral, é falsa porque cada passo no tempo é um grau na escalada para a sabedoria”.

Não sei até hoje se o ex-governador de Minas professou, em algum tempo de sua rica caminhada, alguma fé religiosa. Contudo, de alguma coisa que transcende a religião, ou seja, de seu espírito cristão, não tenho qualquer dúvida, até porque, enquanto pôde exprimi-lo, não se permitiu omitir-se. Ao contrário, sempre aproveitou oportunidades para expressar sua crença em Deus e no magistério de Cristo como Seu enviado.

Tentemos lhe verificar os propósitos enunciados para uma plateia de jovens na referida aula inaugural da UFMG. O que quis dizer a ilustre figura do professor que sempre foi também na sala de aula; do intelectual dos mais aprimorados; do homem público no mais radical sentido da expressão, no Parlamento e no governo das Gerais; ou do candidato sempre escolhido em ocasiões de grande sacrifício pessoal, posto que a aceitação implicasse o reconhecimento realista dele próprio de que iria concorrer para perder?

Façamos um esforço para respondermos à indagação. Muita gente retrucaria o mencionado conceito do doutor Milton se não lhe examinasse a profundidade, que lhe era uma preocupação primordial. São os que se queixam da velhice pelos incômodos que ela impõe. É comum atribuir-lhe a razão dos inconvenientes quando comparados com as bonanças da idade juvenil, bem ancorada em despreocupações, transformando-a, assim, em infelicidades do fim da vida.

Mas o doutor Milton, procurando o significado da velhice na profundidade a que submetia o pensamento, estava convencido de que o envilecimento, se viesse, era mera circunstância. A verdadeira essência desse advinha do livro bíblico de Gênesis, que, no capítulo 3, trata da culpa original, conforme o versículo 14 e seguintes. Em outras palavras, a velhice veio com a desobediência do primeiro homem, e a imortalidade da criação cedeu lugar para sua finitude, transformando-a em inevitável fenômeno natural.

Dessa forma, o Criador enviou Seu filho, Jesus Cristo, para ensinar que o pecado original poderia ser superado, e também a própria mortalidade, por uma nova vida no reino preparado para receber não um mero descendente de Adão pecador, mas um homem novo pronto para a eternidade (João 14, 1-20). Eis então porque o envilecimento pode estar no campo fisiológico, já que, “na área moral, a aproximação é falsa, porque cada passo no tempo é um grau na escalada para a sabedoria”, o único dom pedido a Deus por Salomão (I Reis 3, 9-10).

O doutor Milton foi uma personalidade rica demais para ser entendida em palavras apressadas. Bem examinado em livros por Murilo Badaró, José Bento Teixeira de Salles e outros, ainda espera por uma biografia mais densa, uma obra definitiva. Quem sabe sua neta e desembargadora Juliana Campos Horta, uma querida amiga, preencherá o vazio para oferecer ao público retrato completo daquele homem que “todos gostaríamos de ser”.

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