Marcio Garcia Vilela

O que aterroriza é que a presidente entre a dar palpites...

O que leva o homem público aos limites do sacrifício?

Publicado em: Qui, 29/01/15 - 03h00

A indagação que inspira o título deste artigo me acompanha há muito tempo, em movimento pendular de ida e vinda. Por mais que me esforçasse, nunca encontrei resposta, pelo menos satisfatória, para eliminar a teimosa inquirição. Quando a encontrei para satisfazer as minhas próprias necessidades vitais, pensei que o caminho estava traçado. Talvez temporariamente, o que foi suficiente, tomei o exemplo ao professor Eugênio Gudin: adquiri uma chapeleira imaginária para me descansar o chapéu que me acompanhou enquanto exerci cargos públicos de confiança, de modo a estar sempre preparado para, conforme a circunstância, retirá-lo, pô-lo à cabeça e ir embora para casa.

Nesta e na semana passada, vi-me em duas situações semelhantes, ao ler dois artigos de autoria de excelentes jornalistas, dos melhores entre os nossos, ao nível de um notável Castelinho: Merval Pereira, de quem sou leitor assíduo, e Ricardo Noblat. Coincidentemente, ambos tratam da situação de dois ministros de Estado, Joaquim Levy e Nelson Barbosa, este com menor intensidade de estranheza.

O primeiro me causa pasmo por sua situação peculiaríssima: com experiência anterior no setor público e conhecimento da bagunça do lulopetismo, senão profunda, porém bastante para ter informações básicas desse saco de gatos, com temperos a gosto do freguês – mentira, empulhação e o que mais signifique falta de compostura, desonestidade e outros “et coetera” –, não atino com os motivos que o levaram a aceitar a convocação com a qual nunca deve ter sonhado. Estou convicto de que o ministro, que tem muito a perder, não precisa disso, vis-à-vis os riscos tremendos a que se expôs, aquiescendo. Moço ainda, experimentado nos bancos acadêmicos e nos desafios profissionais, ocupante de importante cargo no gigantesco Bradesco, como se meteu numa enrascada dessas, onde tem de vigiar ameaças, intrigas, aporrinhações e situações vexatórias servidas como pratos de resistência? É inacreditável!

Demais, ainda ter de aguentar a ignorância dos chamados “políticos da base do governo”, coalizão de araque cujo custo é extorsivo! E o que falar da sobremesa recheada dessas espécies denominadas “desenvolvimentistas”, com excesso de açúcar, em homenagem ao principal produto cubano, agora à busca de indulgência do Partido Republicano? Como é possível acreditar que esse bando esquerdista se livrou da prisão ideológica, atrás da qual se fechou? Virou “neoliberal” e continua a sabotar?

Não sei se o ministro Levy tem temperamento de Gudin. Se tiver... Como quer que seja, o risco definitivamente não é fracassar a medicação que o ministro da Fazenda deseja aplicar. Até por absoluta ausência de alternativa. O que aterroriza é que a presidente da República, por influência dos mesmos que puseram a pique o governo Sarney – e muito recentemente naufragou a embarcação do primeiro mandato da própria presidente –, entre a dar palpites, tumultuando a gestão da política econômica. Aí não há solução. Tudo indica que adernarão a barcaça.

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