MÁRCIO GARCIA VILELA

Se persistir no presidencialismo de coalizão, o país será ingovernável

Redação O Tempo

Por Da Redação
Publicado em 10 de setembro de 2016 | 03:00
 
 
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O jornal “O Globo” veiculou, no domingo último, uma das melhores, se não mesmo a melhor, de todas as entrevistas já concedidas pelo senador Aécio Neves. Jovem ainda, Aécio já carrega o peso das responsabilidades de uma vida pública, o que raros políticos conseguiram realizar. Para coroá-la de êxito que muitos poucos logram conquistar, só lhe faltou, por muito pouco, atingir as culminâncias da Presidência da República.

O tempo e as investigações procedidas pela operação Lava Jato cuidaram e prosseguem com a árdua e perigosa missão de tudo esclarecer, posto que, a esta altura dos acontecimentos, muito já se saiba do que uma furiosa gangue furtou do povo brasileiro, tanto em termos de passado como à vista de pesadíssimos prejuízos futuros.

Essencialmente política, a fala de Aécio analisa, com aguda percuciência, as últimas ocorrências havidas ao encerramento da penosa ação de impeachment aberta contra a ex-presidente da nação brasileira. Aliás, os procedimentos históricos acontecidos, antes do final infeliz e grotesco da tragicomédia desenrolada no jardim de infância do direito constitucional, conforme ácido comentário do ilustre ministro Gilmar Mendes, deflagraram os momentos derradeiros de uma farsa urdida nos subterrâneos de Niemeyer, pegando de surpresa aliados do governo, dentre os quais estava o mais decisivo e importante deles – o PSDB.

A resposta de seu respeitável presidente encima o corpo de sua fala: “Sem o apoio do PSDB, não existirá governo Temer”. Mais à frente, perguntado pelo entrevistador se o presidente do STF errou ao aceitar o fatiamento da pena (diga-se de passagem, verdadeiro atentado ao texto constitucional, modificado com base no Regimento do Senado pela decisão monocrática de um juiz da Suprema Corte!), o entrevistado, educado e respeitoso, não deixa passar: “A decisão não foi correta. Não acredito que ele tenha uma intenção subalterna” – tal como a aprovação do aumento de vencimentos dos juízes em tramitação final no Senado Federal – “ao tomar essa decisão, mas abriu um precedente extremamente grave. O que nós vimos foi o regimento do Senado se impondo sobre a Constituição. Algo que me parece esdrúxulo” (na mesma linha do ministro Gilmar Mendes, que classificou com justeza o sucedido de “bizarro”).

Em resumo: com coragem e elegância, o senador Aécio Neves disse verdades sabidas e ressabidas, tais como: a) o PMDB não é um partido político; na melhor das hipóteses, será um aglomerado, uma federação de interesses, aos quais subordina a palavra empenhada, o compromisso assumido. Assim, não adianta firmar pactos com essa agremiação que, por dá cá aquela palha, manda pelos ares, ou às favas, escrúpulos morais ou outros de qualquer natureza; b) o chamado presidencialismo de coalizão não passa de um clichê de mau gosto, uma falácia que desmerece qualquer confiança que se lhe deposite. Nessa balbúrdia em que se transformou o nosso sistema partidário não cabe nenhum governo sério. O ambiente atual só pode ser cognominado “conspiração” para o fisiologismo aético.

O PSDB não pode acomodar-se nesse embrulho armado. É natural que saia da prisão em que se meteu. Primeiro, porque não é criminoso. Segundo, porque tem lideranças alertas e lúcidas. Terceiro, seu presidente, o próprio senador Aécio Neves, na entrevista, não jogou bolhas para o ar. Fiel a sua formação política, aos princípios que aprendeu e desenvolveu com os seus maiores, não irá jogar fora o patrimônio recebido, ao qual sempre agregou valores.