Marcus Pestana

Marcus Pestana é ex-deputado e diretor executivo da Instituição Fiscal Independente (IFI) - mv.pestana@hotmail.com

A doença de Lula e o SUS

Publicado em: Dom, 13/11/11 - 17h06

Permaneci sete anos à frente da Secretaria de Estado de Saúde. Para além do flagrante subfinanciamento, dos problemas gerenciais e dos desafios da incorporação tecnológica e da transição demográfica, pude vivenciar os enormes avanços colhidos pelo sistema público de saúde brasileiro nestes últimos 23 anos.

Sempre me incomodaram visões desinformadas e preconceituosas que faziam uma associação superficial e imediata entre SUS e caos. Recente pesquisa do Ipea mostrou que a avaliação positiva dos que utilizam os serviços do SUS é três vezes superior a daqueles que possuem saúde complementar e, portanto, têm uma visão externa e municiada por narrativas que distorcem a realidade.

Não quero, nem de longe, dourar a pílula. Quem já foi gestor de saúde sabe o tamanho dos problemas e desafios. Mas quero enfaticamente dizer que essa discussão está muito malposta no seio da sociedade, na visão da mídia e na percepção majoritária da opinião pública.

No recente episódio da doença do ex-presidente Lula, os preconceitos e as imprecisões vieram à tona na mídia e nas redes sociais. Em primeiro lugar, trata-se de um ser humano, um grande brasileiro e, independentemente de alinhamentos políticos e ideológicos, todos estamos torcendo por sua cura. Em segundo lugar, Lula tem direito de se tratar onde bem quiser. O problema é quando articulistas e participantes das redes sociais sugerem que ele deveria se tratar no SUS, pressupondo uma realidade caótica e desqualificada.

Posso afirmar que os pacientes oncológicos em Minas Gerais possuem tratamento digno e eficiente no SUS. Há diversos estudos e indicadores comprovando os avanços. Desde a instalação que fizemos da Câmara de Compensação, o tempo entre diagnóstico e acesso à quimioterapia ou radioterapia é muito pequeno. O investimento nos centros Viva Vida, nos consórcios intermunicipais de Saúde e nos hospitais regionais facilitou o diagnóstico. Temos centros de tratamento de câncer que nada ficam a dever aos melhores do país.

Gostaria de organizar excursões reunindo céticos, preconceituosos e mal-informados para, juntos, visitarmos o Hospital Mário Pena e a Santa Casa, em Belo Horizonte, a Fundação Cristiano Varela, em Muriaé, o Instituto Oncológico e a Ascomcer, em Juiz de Fora, o Centro de Tratamento do Câncer do Hospital São João de Deus, em Divinópolis, a Santa Casa e a Fundação Dilson Godinho, em Montes Claros, o Hospital do Câncer, em Patos de Minas, entre outros. As pessoas ficariam espantadas com a qualidade do "caos".

O futuro não deve ter como base visões ufanistas, apologéticas. Nem opiniões deformadas, preconceituosas e desinformadas. As dificuldades do SUS são inegáveis, mas estamos longe do caos onde há boa gestão. Não é com uma autoimagem deformada ou acalentando no brasileiro uma autoestima baixíssima que construiremos um grande país. Só tem direito a reivindicar o futuro a sociedade que sabe valorizar criticamente os avanços conquistados.

 

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