MARCUS PESTANA

Confiança social, representação política e democracia

Redação O Tempo

Por MARCUS PESTANA
Publicado em 16 de outubro de 2011 | 18:37
 
 

O Ibope acaba de divulgar os resultados de sua pesquisa anual sobre a confiança da sociedade em instituições e grupos sociais. Nos quatro primeiros lugares, com maior Índice de Confiança Social (ICS), destacaram-se a família com 90%, o Corpo de Bombeiros com 86% e as igrejas e as Forças Armadas com 72%. Em contrapartida, nos últimos lugares, com as piores avaliações, surgem o Congresso Nacional, com 35%, e os partidos políticos, com 28%.

Embora não haja surpresa nos números, eles realçam um desafio central da democracia brasileira: como fortalecer os laços da população com instituições vitais, como o Congresso e os partidos?

A crise de identificação das pessoas com os pilares de sustentação do sistema democrático não é privilégio brasileiro. Na Espanha, o movimento da juventude, que ficou conhecido como "os indignados", tem como lema "vocês não nos representam", referindo-se simultaneamente ao PSOE e ao PP. Em toda a Europa, há sintomas claros de que uma distância abissal separa representantes e representados. Nos EUA, poucas vezes Democratas e Republicanos estiveram com a popularidade tão baixa.

Há um fenômeno universal que coloca em xeque a credibilidade do sistema representativo. Creio que isso está ligado a três vetores. Primeiro, a sociedade pós-moderna é cada vez mais plural e fragmentada, com inúmeros grupos de interesse se organizando à margem da sociedade política para brigar por suas bandeiras, sem necessariamente encontrarem nos partidos seu instrumento de vocalização. Segundo, não há projetos ideológicos nítidos e consistentes a motivar e servir de referência para a população. Por último, a internet introduz uma nova forma de participação dos cidadãos: direta, livre, individual, às vezes em rede, às vezes atomizada, organizada ou anárquica, construtiva ou demolidora.

No Brasil, os sucessivos escândalos de corrupção, a volatilidade das organizações partidárias, com filiações e partidos sendo tratados ao sabor do vento e dos oportunismos de ocasião, a falta de tradição histórica dos partidos e a cultura presidencialista e personalista agravam a ruptura entre representação política e cidadania.

Movimentos como a atual onda anticorrupção no Brasil, os "Piratas" na Alemanha ou a ação pela redemocratização no Egito nascem numa perspectiva autônoma ou até hostil, em relação aos partidos e às instituições democráticas.

Mas um projeto de transformação que organize ideias, utopias, indignações, valores, objetivos, sonhos terá que, obrigatoriamente, para ter êxito, passar pelo jogo partidário e pela disputa do poder e a ocupação dos espaços institucionais.

O rebelde sem causa nada constrói. As causas sem as ferramentas da mudança morrem no vazio. A democracia carrega as virtudes e os pecados do ser humano. É preciso desvendar o mistério de como aumentar a confiança social das pessoas nas instituições democráticas