Marcus Pestana

Marcus Pestana é ex-deputado e diretor executivo da Instituição Fiscal Independente (IFI) - mv.pestana@hotmail.com

Crise, competitividade e desindustrialização

Publicado em: Dom, 11/12/11 - 15h56

Há muitas interrogações pairando no ar sobre as perspectivas da economia brasileira para 2012. Afinal, a crise no mundo desenvolvido é persistente e mesmo a China dá sinais de que viverá uma desaceleração. E o Brasil dentro disso? Como fecharemos 2011?

A economia brasileira experimentará crescimento moderado este ano. Seu PIB crescerá cerca de 3,2%. Mais do que Estados Unidos e Europa, afundados em forte estagnação, mas bem menos que China e Índia. Sinal de que poderíamos aproveitar melhor as oportunidades dos últimos anos.

A inflação ameaçou fugir de controle. Bateu na trave da meta de inflação. Receios afloraram de que estávamos embalados por um tango argentino. Mais inflação em troca de maior crescimento. O Banco Central garante ter o controle da situação. Mas há pressões vindas do setor serviços e o teste do grande aumento real do salário mínimo.

A arrecadação centralizada pela Receita Federal bombou. Cresceu, de janeiro a outubro, 19,68% nominais, 12,23% acima da inflação. Resultado: crescimento da carga tributária e compressão da capacidade de investimento privado. E a qualidade do gasto público segue a trajetória anterior: aumento das despesas correntes, baixíssimo nível de investimento.

A massa salarial (14,51%), o crédito (18,7%) e as vendas (11,80%) continuaram crescendo. Isso pressionou as importações, que tiveram um alto incremento em seu valor em dólar (26,74%). A taxa de juros iniciou seu desejável declínio. O real permaneceu sobrevalorizado.

Do setor industrial recebemos as piores notícias. A produção industrial cresceu até outubro apenas 1,21%. O déficit comercial nos produtos industrializados foi de US$ 86 bilhões. Há um claro processo de desindustrialização em curso no Brasil. A participação da indústria no PIB despencou na última década. Nossa indústria está perdendo velozmente competitividade. Como afirmou o presidente da Usiminas, Wilson Brumer, "o sinal amarelo pisca e o quadro é extremamente preocupante".

Fica a impressão de que continuamos fazendo o papel da cigarra, e não da formiga, ao não prepararmos adequadamente o inverno futuro. Preços de commodities e fluxo de capital externo são variáveis voláteis num mundo em crise. Podemos persistir buscando pequenos atalhos: aumento de IPI de carros importados da Ásia, uma desoneração aqui e ali, estímulos de crédito pontuais. Ou buscarmos o enfrentamento de nossos gargalos, diminuindo o chamado custo Brasil, assegurando maior poder de competição à nossa economia.

Produzir uma verdadeira reforma fiscal e tributária e aumentar significativamente a taxa de investimento, principalmente na infraestrutura, diminuindo o gasto corrente e acelerando em muito o ritmo das privatizações, das concessões e das PPPs, dão muito trabalho. Demandariam clareza de rumos, liderança de estadista, firmeza ideológica, disposição de enfrentar interesses contrariados. Não parece ser esse o rumo escolhido pela presidente Dilma.

 

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