Marcus Pestana

O Brasil e as turbulências globais

Mesmo economicamente fechado, país sente impactos

Por Marcus Pestana
Publicado em 13 de abril de 2024 | 07:00
 
 
Leia artigo de Marcus Pestana sobre os impactos das turbulências internacionais e a economia fechada do Brasil Foto: Ilustração O TEMPO

Discutimos, na última semana, as diversas fontes de instabilidade no mundo atual: o fantasma de Trump, o conflito Israel-Hamas, a guerra na Ucrânia, ditaduras de direita e esquerda ameaçando a democracia, as enormes desigualdades sociais que separam povos e nações. 

A apropriação dos frutos da globalização é desigual, reafirmando iniquidades históricas. A imigração em massa de países pobres patrocinou o aguçamento de sentimentos hostis de xenofobia e exclusão, fortalecendo uma extrema direita míope e excludente. O mercado, em escala global, permite o livre trânsito de capitais – com um simples clique no computador se transferem bilhões de dólares de um país para outro – e de mercadorias – embora o protecionismo sobreviva, disfarçado ou não –, mas não de mão de obra. Daí o drama dos imigrantes na fronteira do México ou na Europa. 

Vivemos uma crise mundial pela irradiação dos problemas do sistema financeiro americano em 2008 e 2009 e uma pandemia em 2020. Isso acionou um freio de arrumação na globalização, com a reorganização, em curso, das cadeias produtivas internacionais. 

E o Brasil, diante deste mundo conturbado e em mudança permanente? 

Do ponto de vista econômico, somos um dos países mais fechados do mundo. O nosso coeficiente de abertura externa, ou seja, exportações somadas a importações, divididas pelo PIB, vezes cem, é de apenas 24%. Enquanto isso, na Coreia do Sul, é de 108%; em Hong Kong, 375%; Singapura, 322%; Portugal, 85%; Espanha, 66%; Noruega, 69%; e Austrália, 43%. Ou seja, nossos canais de comunicação com a economia globalizada são muito menores do que os dos países que deixaram de ser emergentes e entraram no mundo desenvolvido. Ainda assim, dependemos do ritmo da China, por suas repercussões na importação de commodities, e da taxa de juros americana, por conta do fluxo de capitais. 

Nossa dívida externa é irrelevante, não é fonte de preocupação. Nossas reservas internacionais são robustas e se encontram em patamar superior a US$ 355 bilhões. Um belo colchão de amortecimento contra crises mundiais, embora numa crise global profunda as coisas mudem em dias, em horas. Temos um confortável saldo na balança comercial, que chegou, em 2023, ao recorde de US$ 98,8 bilhões. Ao subtrairmos os gastos internacionais com viagens, aluguel de equipamentos, transportes, remessa de lucros, pagamento de juros e outras transações correntes, ficamos no vermelho, em torno de US$ 28 bilhões (2023). Isso é compensado com a entrada líquida de investimentos diretos acima de US$ 60 bilhões. Ou seja, o Brasil depende visceralmente da exportação de commodities e da atração de investimentos diretos. É preciso cuidar bem do ambiente que envolve essas duas variáveis. 

Em relação às pessoas, o Brasil, que recebeu de braços abertos italianos, japoneses, portugueses, sírios, judeus, libaneses, hoje é exportador de pessoas, principalmente jovens e brilhantes cérebros, infelizmente. Já são mais de 4 milhões de brasileiros morando no exterior. 

Este é um breve raio X de nossas relações com um mundo globalizado. Não somos uma ilha. As turbulências e as ameaças presentes nos afetam. Não adiante dar de ombros e citar Drummond: “Mundo mundo vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo, seria uma rima, não seria uma solução”. A economia brasileira depende sempre de soluções. 

(*) Marcus Pestana é diretor executivo da Instituição Fiscal Independente (IFI) e ex-deputado federal