MARIANA RODRIGUES

O rei morreu. Viva o rei!

Redação O Tempo

Por Da Redação
Publicado em 18 de janeiro de 2015 | 04:00
 
 

Eu queria ser uma mosquinha nessa última segunda-feira e ver a reação da plateia na estreia de John Galliano, com a coleção Artisanal, para a Maison Martin Margiela. E, de quebra, incomodar um pouquinho celebridades como Ana Wintour, Alexandra Shulman, Nick Knight, Christopher Bailey, Alber Elbaz, Manolo Blanick e, é claro, Mrs. e Mr. Kate Moss.

Depois de amargar quatro anos longe do spotlight em centros de reabilitação e exílios voluntários, de ter sua imagem divulgada pelo YouTube como um bêbado antissemita, ser compulsoriamente demitido da Maison prestígio da moda, a Dior, ou seja, perder do dia pra noite a notoriedade, a credibilidade e o espaço no fechado universo da moda, ele voltou.

E voltou bem. A coleção Artisanal criada por Margiela visa trabalhar como couture os mais diversos materiais. Já vi bolsas feitas de luvas, corpetes de elástico grosso, chapéu feito de casaco de lã. E por aí vai. As possibilidades são infinitas. O time de Margiela saía às ruas atrás de materiais diversos, e depois, no ateliê, decidiam o que eles iriam se tornar. O que não impedia também uma boa visita a um brechó quando duas roupas diferentes tornavam-se uma só.

Galliano respeitou os pressupostos de Margiela em sua coleção Artisanal. Roupas aproveitadas ou utilizadas fora de sua função original, superposições, misturas... Mas ele também criou incríveis medalhões de lagostas, conchas, camarões, lagostilhos, tudo encravada em uma placa e pintado de vermelho coral brilhante. Plástico? Supostamente.

Em um outro look, como formando uma franja, bandidos e mocinhos saltam para fora da costura numa perseguição implacável. Quem mais poderia ter a verve irônica de colocar emu ma roupa os antigos brinquedos de plástico, alegria da meninada dos anos 60 e 70?

É, o rei voltou. Aparentemente curado das drogas e de seu deslize moral. Ainda falta um pouco para que seu trono se consolide e não seja capturado por um inimigo.

Mas a primeira batalha foi ganha.

Mariana de Faria Tavares Rodrigues é mestre em moda, pesquisadora de história da moda e docente no Centro Universitário UNA. Ela divide este espaço com Jack Bianchi, Lobo Pasolini, Rafael Maia e Tereza Cristina Horn