Mariana Rodrigues

Domingueira

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Uma imagem vale por mil palavras !?

Publicado em: Sex, 27/03/15 - 03h00

 - Vale? Não acho.

– É claro, o mundo é das imagens, não é mais das palavras…

– Vamos andar com um tablet acoplado ao pescoço mostrando imagens e perdendo a capacidade de falar, só emitindo grunhidos, como ahs… opps…urghs…?

– Não é isso...Continuaremos a falar, mas o mundo é muito rápido. Imagens são mais rápidas para passar uma mensagem.

– Ah… A mensagem que eu posso entender, ou não...

– Mas é proposital. Algumas imagens não são pra entender…

– Então por que existem?

– Para criar excitação, convulsão, raciocínios, descontentamento, avisos…

– Você quer dizer que eu agora vejo a imagem e descubro o que ela quer dizer, em um mundo de possibilidades…

– Por aí…

Toda essa discussão por causa de uma entrevista sobre stylists. Eu até concordo que estava mais a fim da discussão do que da solução. Na Era das Imagens, com Instagrams (ou “Instabobos”, na minha opinião), FaceBook, tablets, os velhos cinemas, TVs etc, ainda dando o seu recado, estamos cercados por imagens. Nas ruas, em casa, dentro dos armários, nas etiquetas das roupas e no mago dos magos, o computador. E nesse mundo de inflação, em que as coisas boas são substituídas por notícias comuns e espetacularismos insonsos, uma imagem pode valer mais que mil palavras.

Tudo começou ao analisarmos as últimas coleções desfiladas nas semanas de moda que se iniciaram em Nova York no mês passado. Pouca novidade nas roupas, muita novidade nas montagens, junções, na criatividade das superposições, cores, adornos. Bem, isso tudo faz parte do mundo da imagem. E por quê? Ora, as coleções estavam pobres. É o velho caso do pretinho básico: repete-se o vestido e modificam-se os acessórios. “A moda contemporânea é menos sobre fazer roupas e mais sobre fazer imagens” é a opinião de Angelo Flaccavento do site especializado Business of Fashion (março, 2015). Flaccavento lança até um novo tipo de designer: o “design-marketing”. Seriam o produto daqueles que têm um olhar não só para as roupas, mas para roupas e styling ao mesmo tempo. E diz mais: “a ênfase hoje não é no quê (as roupas), mas no como (as junções), e é aqui que o stylist mostra seu poder. Designers como Heidi Slimane na Saint Laurent e Maria Grazia Chiuri e Pierpaolo Piccioli na Valentino já apresentam esse olhar de designer e styling, oferecendo nas passarelas um produto com um olhar editorial.

Ao analisar o street style em 2008, Sophie Woodword, na 1ª edição do volume 13 da revista academicamente conceituada Fashion Theory, sugere que, ao olhar o street style atual, ela pesquise looks compostos não mais pelo quê, mas pelocomo, ou seja, não são as peças em uso e nem sua procedência (vale misturar Riachuelo, e Bo-Bô e Zezé Duarte), mas como o estilo pessoal mistura essas pseudodiscrepâncias, criando um look original e editorialmente compreensível.

Eu ainda prefiro um pouco mais, pelo menos um pouquinho mais, de palavras. Gosto de afirmar insisitivamente: bonito!; feio!, não entendo!; maravilhoso!; do que ficar a analisar algo tão corporativamente cuidado, como se algo fica bem com alguma coisa para as câmeras fotográficas.
Mas vamos lá. O mundo muda, e quem não muda com o mundo será, fatalmente, mudado.

Mariana de Faria Tavares Rodrigues é mestre em moda, pesquisadora de história da moda e docente no Centro Universitário UNA. 

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