MICHELE BORGES DA COSTA

A incrível aventura de Jeff

Redação O Tempo

Por Da Redação
Publicado em 25 de agosto de 2017 | 04:00
 
 
Reprodução Facebook

“Distância pro final: uma milha!”. Se troquei algumas dúzias de palavras com Jeff, isso aconteceu há um bom tempo, quando eu cuidava do caderno de cultura deste jornal e ele colocava de pé alguns dos projetos mais bacanas da cidade. Ele é marido da Ale, que é muito amiga da Ju, que é comadre da minha irmã, ainda assim esse grau de separação sucinto não nos coloca na rede de intimidade um do outro. Mas quando Jeff postou no Facebook, às 10h09 da última quarta-feira, que a aventura em que ele se meteu estava perto do fim, fiquei emocionada de um jeito que só acontece quando a gente testemunha um grande amigo realizar coisas incríveis.

Foram 3.550 km, 5 milhões de passos, 131 dias para percorrer a Appalachian Trail, uma trilha que segue a cadeia montanhosa dos Apalaches entre reservas florestais no leste dos Estados Unidos. Li em algum comentário que é o primeiro brasileiro a concluir a empreitada de uma vez só. Poderia ser o milésimo que não diminuiria em nada meu assombro.

Nos seus relatos mais recentes, horas depois de ter terminado a trilha, Jeff ajudou a gente a entender o tamanho da coisa toda: 3.550 km é a distância entre Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, e Porto Velho, em Rondônia. Se não fosse longe o bastante, a elevação é como se ele tivesse subido e descido cem vezes a Pedra da Mina, na serra da Mantiqueira, o quinto ponto mais alto do Brasil.

Jeff chegou ao topo de mais de 350 montanhas em 14 Estados norte-americanos, começando na Geórgia e encerrando no Maine. Na quarta-feira, enfrentou a última delas, Katahdin, carregando o básico: mochila, água, blusa de frio, uns lanches e a sensação de que estava a alguns passos de realizar um sonho. Quando chegou lá em cima, colocou a mão na placa que marca o fim da trilha, como se precisasse tornar tátil o que tinha acabado de realizar, fez o vídeo que tinha prometido para a neta, sentou nas pedras e chorou. Lendo como tudo se deu, chorei daqui também.

Não é preciso muito esforço para enxergar o tanto de lição que ocupa o diário de aventura dessa caminhada. Como não se inspirar nos Trail Angels, pessoas que dedicam tempo e energia para tornar o dia dos caminhantes mais feliz? Como não reconhecer como Trail Magic os presentes que a gente recebe sem esperar e que têm o poder de apaziguar e dar coragem? Como não dar o tamanho que as coisas realmente têm sabendo que, quando tudo é privação, é o essencial que mais faz falta: cama, comida, água, banho e quem a gente ama?

Em um desses 131 dias, Jeff escreveu que a trilha tem uma regra: não desista em um dia difícil. Serve pra trilha e serve pra vida.

Jeff não faz ideia, mas desde abril, cada vez que eu via uma de suas fotos no Instagram, cada vez que entrava em seu blog para saber onde ele estava, cada vez que lia um post sobre como tinha ultrapassado mais um dia, de alguma forma aquilo me ajudava a dar meus próprios passos na trilha que a vida dá um jeito de colocar sob os nossos pés. Valeu, Jeff! Sou mais uma a ter um orgulho danado de você.