Michele Borges da Costa

MICHELE BORGES escreve no Magazine às sextas-feiras. michele@otempo.com.br

Devo, não nego

Publicado em: Sex, 25/11/16 - 03h00

Em uma dessas inócuas tentativas de fazer faxina na caixa de entrada de e-mails, encontro uma mensagem da doce Mariana, que em tão poucos encontros garantiu um lugarzinho na gaveta dos afetos. Era a resposta atenciosa a um “oi” que partiu do lado de cá, acompanhada de um convite para um café em uma tarde de domingo qualquer, pra gente poder colocar o papo em dia, falar da vida, das crianças, das casinhas de Belo Horizonte... Ainda bem que Mariana não depende de mim para preencher seus fins de semana. O e-mail chegou em outubro de 2012 e continua sem retorno. Neste momento, sou um poço de constrangimento, que vai ganhando profundidade com cada vácuo que me sinto incapaz de evitar.

Mariana não é a única, não é a primeira nem será a última vítima do meu comportamento relapso. Simplesmente não consigo ser a pessoa elegante que retorna todas as mensagens e ligações que recebe. Juro que tento, mas não consigo. E, assim, acrescento mais uma culpa na coleção.

Talvez falte método. Poderia dedicar uma hora por dia para a função, não ir almoçar sem ter a certeza de que todo mundo recebeu a atenção merecida, não deixar para amanhã o que deveria fazer agora, poderia. Mas quando me dou conta, já fui atropelada pelo cotidiano, já adiei pra daqui a pouco, já me meti em outra tarefa, já esqueci.

Então, aproveito este climinha de fim de ano que começa a tomar conta das varandas e vitrines para fazer um pedido de desculpas público e generalizado, a começar pela Mariana, que já nem deve se lembrar de mim, mas com quem gostaria muito de dividir uma tarde de domingo qualquer, pra gente poder colocar o papo em dia, falar da vida, das crianças, das casinhas de Belo Horizonte...

O pedido é extensivo aos grupos de WhatsApp, que geralmente recebem de mim um silêncio contundente. Por favor, não confundam a ausência de interação com indiferença. É que não dou conta de acompanhar vocês. Outro dia, entre eu sair do jornal, atravessar o Anel Rodoviário, colocar o carro na garagem e me jogar no sofá – o que levou 18 minutos –, brotaram 73 mensagens! Eu amo vocês, mas se eu ler tudo que postam, não faço mais nada. Aproveito para antecipar cada “bom dia” do próximo ano.

Tia Cida, pode demorar, mas sempre leio tudo que você me manda, acredite. Às vezes, a correria me faz dar um like impessoal, o que não quer dizer que eu ignore o cuidado que você tem em escolher textos que realmente tocam meu coração. Tia Bete, você já sabe a alergia que eu tenho de telefone, mas cada beijo que chega através dos meus “atendedores particulares” é uma alegria enorme.

Amigos de infância, vizinhos queridos, colegas de trabalho, conhecidos e nem tanto, se eu já te deixei sem resposta, a chance de não ser pessoal é bem real. É só me darem mais uma chance. Prometo que vou me esforçar.

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