Michele Borges da Costa

MICHELE BORGES escreve no Magazine às sextas-feiras. michele@otempo.com.br

Dormir é para os fracos

Publicado em: Sex, 19/02/16 - 03h00
O reloginho no canto direito do notebook marca 2:48. “Ainda nem são 3h, dá pra ver mais um episódio”. Pouco importa se a consulta com o fisioterapeuta está marcada para dali a cinco horas, se os cientistas da Universidade Loyola de Chicago afirmam que adultos precisam dormir de sete a nove horas por dia, que a privação de sono produz uma maior atividade nos genes implicados no estresse e na morte celular. Ter disponível toda a temporada da série favorita torna esperar pelo dia seguinte um troço dificílimo. Aquele espanto que pula da tela do computador logo antes dos créditos finais torna esperar pela próxima semana uma angústia sem fim.
 
O dia 4 de março cai em uma sexta-feira, já conferi. É aniversário do Juninho, é Dia Mundial da Oração, é quando o Fluminense vai lançar o novo uniforme, mas, principalmente, é a data que a Netflix escolheu para liberar a quarta temporada de “House of Cards”. Pelas minhas contas, vai dá pra ver os 13 episódios no fim de semana, sem precisar abrir mão de pedalar na manhã de domingo, de ir ao cinema sábado à noite, de almoçar com os filhos sem pressa... Com menos pressa, talvez... Com só um pouquinho de pressa, na verdade. 
 
Não me julguem. Já faz quase um ano que Claire começou a colocar água no chope do Frank Underwood. É tempo suficiente para sentir os sintomas da síndrome de abstinência. Se não fossem outros vícios entre uma temporada e outra, nem sei. “How to Get Away with Murder” tem ocupado as madrugadas atuais, que já foram de “True Detective”, “Masters of Sex”, “Mad Men”, “Narcos”, “The Leftovers”, para citar os rouba-sono mais recentes.
 
O problema é que sou influenciável demais e essa generosidade da internet, esses sites de “streaming”, esses serviços “on demand” tiraram um bocado da minha disposição para a especulação, para a vida em doses homeopáticas. Pelo menos no que diz respeito às séries, minhas companheiras da calada da noite, troquei o refinamento das expectativas pelo privilégio da resposta imediata. Afinal, ainda nem são 3h, posso me conformar com essa escravidão consentida.
 

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