Murillo de Aragao

Última vez foi em 1989, entre Collor de Mello e Lula da Silva

Sucessão chega à reta final com quadro ainda indefinido

Publicado em: Qua, 22/10/14 - 03h00

Esta é a última semana de campanha antes da eleição presidencial, marcada para domingo, 26. Pelo menos quatro aspectos merecem ser destacados para uma análise mais detalhada.

O primeiro deles é que desde 1989 não chegávamos a esse momento da disputa com quadro tão indefinido. Naquele ano, a uma semana da eleição, a vantagem de Collor sobre Lula era de apenas 2 pontos, segundo o Datafolha. Nas eleições seguintes em que tivemos segundo turno, a vantagem do líder foi sempre superior. Em 2002 e 2006, era de 20 pontos ou mais. Agora, Dilma Rousseff (PT) aparece com apenas 2 pontos de vantagem sobre Aécio Neves (PSDB).

O segundo aspecto é que, diante desse quadro de empate, o eleitor indeciso ou que ainda não tem convicção do seu voto pode mudá-lo na reta final. Segundo a última sondagem do Datafolha, 15% deles decidiram em quem votar no primeiro turno na véspera ou no próprio dia da eleição.

Como consequência, e este é o terceiro aspecto a ser considerado, o último debate da TV Globo poderá ser decisivo. Seu modelo reduz a possibilidade de ataques e ofensas pessoais, uma marca dos últimos debates televisivos. Além das perguntas que um candidato fará ao outro, há blocos nos quais convidados de diferentes regiões do país são sorteados para fazer perguntas. Portanto, haverá mais espaço para discussão de propostas.

O quarto ponto é que os dois candidatos já exploraram no limite todas as suas armas: Aécio usou o tema da Petrobras e os problemas na economia; Dilma atacou pontos do período de seu oponente como governador de Minas Gerais e problemas na gestão do PSDB. Não há uma bala de prata a ser usada nem por um nem por outro. O desempenho neste último debate e a propaganda partidária nessa reta final ganham, portanto, enorme importância. Leva quem errar menos ou acertar mais.

Terminada a campanha, o mais importante item da agenda pós-eleição será a definição da equipe do vencedor. Diante da necessidade de ajustes na economia, da construção da base política e da definição da agenda de reformas a ser implementada a partir do próximo ano, há bastante expectativa sobre o time de cada candidato.

Se Aécio Neves sair vitorioso, a transição entre o governo atual e o próximo, especialmente após uma disputa tão acirrada, é outro tema que chamará a atenção. Entrará de forma mais intensa na agenda legislativa a disputa pelas presidências da Câmara e do Senado. O PMDB quer manter o comando das duas Casas. Pela tradição, a maior bancada tem o direito de indicar o presidente. No Senado, a tendência é que continue com o PMDB.

Além das presidências da Câmara e do Senado, há uma série de outros cargos estratégicos na estrutura do Congresso, como comissões permanentes, objeto de intensa disputa entre as legendas. Na tentativa de ocupar o maior número desses cargos, os partidos negociam a formação de blocos parlamentares. Assim, siglas pequenas e médias, mais numerosas, aumentam sua chance de ocupar postos a que, sozinhas, dificilmente teriam acesso.

Há ainda a necessidade de o Congresso concluir a votação tanto da Lei de Diretrizes Orçamentárias quanto do Orçamento de 2015. Se a oposição ganhar a eleição, o texto poderá ser bastante reformulado. Os trabalhos da CPI da Petrobras também entrarão em nova dinâmica. O prazo final da comissão é novembro, mas ele poderá ser prorrogado por mais 30 dias.

Depoimentos importantes são esperados até o fim do recesso parlamentar.

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