MURILO ROCHA

Cunha dispara onda de temor

Redação O Tempo

Por Da Redação
Publicado em 20 de outubro de 2016 | 04:29
 
 

O anúncio da prisão ontem, no início da tarde, do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), figura central da política brasileira nos últimos dois anos, deflagrou uma série de convicções, conjecturas, teorias e, principalmente, temores no mundo da política. O ex-presidente da Câmara é considerado um arquivo vivo, no qual estariam contidas pistas e provas sobre as piores práticas políticas do Congresso brasileiro nos últimos anos.

Mais: a detenção de Cunha seria uma resposta da força-tarefa da Lava Jato à grita de militantes do PT em relação à obsessão da operação somente pelo Partido dos Trabalhadores. No rastro desse raciocínio, os petistas já veem outro risco: a prisão do todo-poderoso peemedebista ser usada como aperitivo ou encenação para justificar o real objetivo da turma de Curitiba: prender o ex-presidente Lula. Dentro dessa ideia, a qual não me parece tão absurda, a Lava Jato prende Cunha para mostrar ser “democrática” em suas decisões, agradando a boa parte da opinião pública, inclusive setores da esquerda, e, em seguida, dá sua cartada final, prendendo Lula com menor comoção nacional. Pode ser.

No Palácio do Planalto, a operação de ontem da Polícia Federal também fez tremer muita gente. A torcida é para Cunha cair sem conseguir fechar uma delação premiada. Caso ele faça um acordo com os investigadores – para isso, ele terá de trazer informações novas e, consequentemente, envolver novos atores nesse enredo de corrupção –, integrantes do primeiro escalão de Temer, inclusive o próprio presidente, estariam muito vulneráveis aos disparos do peemedebista.

O deputado ainda pode comprometer, caso tenha algum benefício para tal, mais de uma centena de parlamentares. O apoio a sua eleição para a presidência da Câmara, em 2015, e todo o seu prestígio na Casa não foram conquistados apenas por simpatia e poder de oratória. Há a suspeita de o ex-deputado ter financiado a campanha de muitos colegas em 2014, com dinheiro sabe-se lá vindo de onde. O engraçado agora é ver quem antes brigava na cotovelada por uma foto ao lado do parlamentar ficar dando entrevista elogiando a prisão ou negando proximidade com o ex-deputado. Não enganam ninguém.

Vamos ver como essa história se desenrolará, dependendo da disposição e da capacidade de Cunha de ilustrar ainda mais essa rede de corrupção. Como canta uma banda de forró: “... amanhã tudo pode acontecer, inclusive nada”.

Belo Horizonte. A campanha para a Prefeitura de Belo Horizonte ilustra de maneira peculiar o fenômeno do discurso “anti-político” espalhado país afora. Dois dos principais líderes políticos do Estado até quatro anos atrás – o senador Aécio Neves (PSDB) e o governador Fernando Pimentel (PT) – estão sendo usados pelo candidato Alexandre Kalil (PHS) para tirar votos de seu adversário, o deputado estadual João Leite (PSDB).

Cenário nunca imaginado por Aécio ou por Pimentel. Antes influenciadoras e puxadoras de voto, agora suas imagens são usadas em seus redutos eleitorais como arma para tirar voto de quem eles apoiam. A briga por aqui é para mostrar quem não tem apoio de “velhos políticos”.