Murilo Rocha

MURILO ROCHA escreve no O Tempo às quintas-feiras. murilorocha@otempo.com.br

Jogadas individuais

Publicado em: Qui, 13/10/16 - 03h00

Escarafunchando os resultados do primeiro turno das eleições no país para além da derrocada do PT e do repúdio do eleitor a partidos e políticos tradicionais, percebem-se ações e movimentos de jogadores individuais em busca de sobrevivência. O caso mais bem-sucedido até agora foi o do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB). O tucano paulista costurou sozinho, de forma ousada, a candidatura de João Doria e se deu bem, muito bem. A cartada de Alckmin lhe custou um racha no PSDB estadual, colocando-o em rota de colisão com figuras como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o ministro José Serra. Mas ele venceu e mudou o jogo. Elegeu Doria em primeiro turno para a Prefeitura de São Paulo e, de terceiro nome na sucessão do PSDB para a candidatura à Presidência em 2018, atrás do senador Aécio Neves e de Serra, voltou a figurar como favorito. Será difícil desbancá-lo dentro da legenda.

A vitória retumbante de Alckmin lá acendeu o alerta vermelho – na verdade, já aceso há muito tempo – de Aécio por aqui. Ainda debilitado pela derrota em Minas na eleição presidencial de 2014 e desgastado com as citações na Lava Jato, o tucano mineiro ainda corre o sério risco de não conseguir eleger o prefeito de Belo Horizonte. Não conseguiu emplacar João Leite no primeiro turno, como ocorreu com Alckmin e Doria em São Paulo, e vê uma disputa acirrada no segundo turno. Para piorar, o rival de João Leite, o empresário Alexandre Kalil (PHS), é uma espécie de franco atirador com um discurso do antipolítico, responsável por esgarçar mais ainda a figura de Aécio, a quem ele se refere indiretamente a todo momento como o “grande cacique”. Por isso, Aécio tem jogado pesado nos bastidores para minar a campanha de Kalil e fortalecer a de seu candidato, mas, até agora, os efeitos estão aquém do esperado.

Em Belo Horizonte, porém, quem tomou o maior tombo, antes mesmo da eleição acabar, foi o prefeito da capital, Marcio Lacerda (PSB). Após dois mandatos – o primeiro com o apoio do PT e do PSDB e o segundo apenas com o do PSDB –, Lacerda e sua equipe superestimaram sua força política e arriscaram voo solo, bancando uma candidatura independente de antigos aliados. Em tese, a ideia não era ruim, mas, na prática, se mostrou um desastre, ainda mais depois da troca de candidatos na última hora – Paulo Brant (PSB) por Délio Malheiros (PSD).

A onda de rejeição à política no Brasil condenou quase todos os atuais prefeitos à derrota, com raras exceções. No caso de Lacerda, acreditava-se, com base nas sempre questionáveis pesquisas internas, num poder de transferência de 30% dos votos do eleitorado para o candidato ungido pelo prefeito. Délio, atual vice-prefeito, amargou melancólicos 5,45%, ficando apenas em 5º lugar.

O desempenho pífio complicou as intenções futuras de Lacerda – se candidatar a governador – e, pior, ainda o fez voltar de cabeça baixa para o grupo liderado por Aécio Neves. A situação do prefeito não é fácil. Nem mesmo sua intenção de anunciar apoio a João Leite no segundo turno foi vista com bons olhos pela candidatura do tucano. O apoio do prefeito, na avaliação do PSDB, reafirmaria nesse momento o discurso de Kalil – do “eu contra todos eles”. Hoje, Lacerda não dá mais as cartas.

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