MURILO ROCHA

Picciani, agora, é a salvação

Redação O Tempo

Por Da Redação
Publicado em 18 de fevereiro de 2016 | 03:00
 
 

Leonardo Picciani, reeleito ontem líder do PMDB na Câmara dos Deputados, é um retrato perfeito de como funciona o balcão de negócios no Congresso e também de como não há nenhum vínculo ideológico da maioria dos parlamentares com propostas de governo A, B ou C. Há apenas interesses pessoais em jogo. Em menos de dois anos, o deputado federal pelo Rio de Janeiro virou a casaca radicalmente, passando de opositor do governo Dilma Rousseff ao posto de principal esperança do Planalto dentro do Legislativo.

Na campanha presidencial de 2014, Picciani não só fez campanha para o senador Aécio Neves (PSDB), como se apresentou publicamente como um dos principais apoiadores do presidenciável tucano em seu Estado, o Rio. No entanto, com a vitória de Dilma Rousseff e a cisão provocada na base do governo – especialmente no PMDB – após a eleição de Eduardo Cunha para a presidência da Câmara, o deputado fluminense viu o cavalo arriado passar a sua frente e não hesitou em mudar de time. Cooptado pelos governistas para ser uma oposição a Cunha no ninho peemedebista, Picciani aceitou e vestiu a camisa.

Não se sabe ao certo quais as bases da negociação, mas especula-se um convite para assumir um ministério. Aliás, essa possibilidade já era aventada antes da reeleição de Picciani. Agora, com sua vitória até certo ponto folgada (37 a 30) diante das previsões de uma disputa acirrada, seu cacife para cobrar a dívida com o Planalto só aumenta.

Fora a metamorfose ambulante do deputado do PMDB e deixando os escrúpulos de lado para se afundar no cenário amoral do Congresso, a vitória de Picciani deve ser vista como um importante ponto de sobrevivência para o governo Dilma Rousseff – e foi comemorada como tal.

O Planalto confia em Picciani três missões. Uma delas já foi iniciada ontem, o enfraquecimento de Eduardo Cunha. Acuado pela procurador geral da República, Rodrigo Janot, no âmbito da Lava Jato, o presidente da Câmara fica ainda mais fragilizado ao não conseguir emplacar seu candidato dentro do PMDB.

A segunda missão é consequência imediata da primeira. Com Cunha cada vez mais sem poder, a pauta do impeachment tende a perder força até ser engavetada por completo. Em terceiro, mas não menos importante, Picciani pode ser peça-chave para a aprovação das chamadas pautas-bomba do governo na Câmara, leia-se as medidas de ajuste fiscal e, inclusive, a recriação da CPMF.

Se, do ponto de vista da ética e da coerência, comemorar a vitória de Picciani parece um exagero e um descalabro, hoje em dia, para os governistas, essas são questões teóricas menores. Na prática, a luta é pela sobrevivência. Outros valores já foram abandonados há tempos.