MURILO ROCHA

Seletividade e banditismo

Redação O Tempo

Por Da Redação
Publicado em 26 de novembro de 2015 | 00:00
 
 

Há uma teoria – conspiratória, na visão de alguns, e correta, para outros –, segundo a qual a operação Lava Jato, desde o início, ainda em 2014, atua de forma seletiva na hora de decidir quem investigar, prender e julgar. Para essa corrente, o objetivo da ação seria enfraquecer o governo Dilma e o PT. E, mais recentemente, com o fracasso da oposição de avançar com o impeachment da presidente no Congresso, a Lava Jato seria o braço jurídico para inviabilizar a continuidade do atual mandato de Dilma e, de quebra, atingir o ex-presidente Lula por meio da prisão de pessoas ligadas a ele (como a detenção do pecuarista José Carlos Bumlai) ou até mesmo do próprio petista – hoje Lula é o único nome do PT com viabilidade eleitoral para concorrer à Presidência em 2018.

Independentemente da veracidade ou do caráter fictício da tese acima, a prisão, ontem, do senador Delcídio do Amaral, líder do governo federal no Senado e um dos principais quadros atuais do PT, dá legitimidade à Lava Jato. E, mais, fragiliza de vez o Palácio do Planalto, além de comprovar a já sabida derrocada do Partido dos Trabalhadores. A revelação das gravações de conversas de Delcídio com advogados e pessoas próximas de Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras preso por corrupção, vai além de uma comprovação de culpa no cartório. Ela também demonstra o uso do cargo de senador e de líder do governo como uma moeda de troca para oferecer vantagens (no caso pagar o silêncio de Cerveró em sua delação) e ainda cometer outro crime, dar fuga a um réu da Justiça. Coisa de máfia.

Por mais que o PT e o Planalto digam o contrário, Delcídio não é um político qualquer. Ele, inclusive, chegou a ser cotado para assumir ministérios no governo Dilma e, em suas conversas, falou mais do que devia. Em um dos trechos, ele diz ter tido acesso ao rascunho da delação de Cerveró, no qual ele teria dito que Dilma “sabia de tudo” sobre a compra da refinaria de Pasadena (EUA). De acordo com o Tribunal de Contas da União (TCU), houve um superfaturamento de R$ 792 milhões na negociação. O senador ainda demonstrou ter boas relações com ministros do STF, com os quais ele prometia intermediar a soltura de Cerveró, e também levantou suspeita ao participar de um diálogo sobre a suposta conta do senador Romário (PSB) na Suíça. Na conversa, um dos interlocutores diz a Delcídio que a conta existia, sim, e que Romário teve que agir para desaparecer com ela. Enfim, Delcídio caiu, mas jogou lama para todo lado.

Sobre a seletividade, tema do início da coluna, causa certo espanto o argumento usado para justificar a prisão do senador (estar obstruindo as investigações) não ser aplicado a Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O presidente da Câmara abusa de suas prerrogativas no cargo para atrapalhar apurações contra ele.