OTÁVIO GROSSI

A ventania que vem do morro

'A agremiação tem 250 pessoas inscritas, sendo 80% de jovens de 12 a 25 anos'

Por Da Redação
Publicado em 06 de fevereiro de 2023 | 03:00
 
 

Bacharéis do Samba é um dos blocos caricatos mais tradicionais de Belo Horizonte. Coleciona vários títulos no Carnaval da cidade, é tricampeão, e tem, à sua frente, moradores dos bairros São Pedro e Morro do Papagaio, além de integrantes de diversas localidades. A agremiação tem 250 pessoas inscritas, sendo 80% de jovens de 12 a 25 anos.

Promove muitas outras atividades durante o ano voltadas para educação, saúde, arte e esporte. Na presidência, o carnavalesco Fernando Junqueira e uma diretoria muito participativa e criativa. Em sua história sempre propôs sambas-enredo criativos que encantam e levantam a plateia. Neste ano de retomada, após a pandemia, não seria diferente, e os tamborins estão afinados, e o vento forte da transformação vem do morro.

O bloco traz para a avenida neste ano uma releitura do clássico “O Mágico de Oz”, lançado em 8 de setembro de 1939 e que continua com mensagem tão nova e importante. Esse longa-metragem é baseado no primeiro livro da série escrita por L. Frank Baum. Nele acompanhamos a história de Dorothy, uma jovem do Kansas que através de um tornado é levada ao mágico mundo de Oz. No Kansas conhecemos sua família, seus afetos e desafetos e seu cachorrinho. Esses personagens criam um paralelo com as novas amizades e inimizades criadas em Oz. Sonho ou realidade?

Na história, Dorothy busca ajuda do mágico para retornar a sua terra e, nessa busca, encontra amigos determinantes, que também têm seus desafios pessoais. O leão, que busca a coragem, o espantalho, o cérebro e o homem de lata na busca pelo coração. Tudo é uma grande metáfora de onde podemos buscar nossas forças: dentro de cada um de nós, vencendo nossas tempestades e caminhando com generosidade!

O samba-enredo integra em sua melodia as buscas dessa garota retratadas em um clássico da música, “Over the Rainbow”, além do arco-íris, e celebra a vida. As nossas tempestades apontam para as nossas necessárias transformações pelo caminho dos tijolos amarelos que nos fazem ver mais gratidão do que reclamações. A proposta cenográfica representa uma mensagem de afeto e bondade e de que o melhor lugar é nosso lar, além da temática de que aquilo que procuramos está em nós mesmos. O milho, a maçã e as esmeraldas ainda nos remetem ao imaginário mineiro de nossas riquezas.

São debates bem construídos e passíveis de várias interpretações entre cada uma das alas e a casa, que se transforma como fomos transformados pela pandemia; todos em busca de dignidade. Ainda temos toda uma camada crítica quanto à relação abusiva entre a bruxa má, que exclui o diferente e manipula tudo, e as atitudes autoritárias de Oz. Dorothy sempre teve tudo o que precisava para derrotar a bruxa má e suas próprias bruxas, assim como seus amigos já tinham tudo aquilo que buscavam, e precisavam ser despertados.

E nesse caso vai ter muito som para nos acordar! “O Mágico de Oz” nos convida a perceber como é mágica nossa própria vida e como somos mais fortes e capazes do que imaginamos. Afeto, coração, coragem, pensamento e reflexão sobre a realidade é a receita do bloco Bacharéis do Samba para este ano na avenida. O enredo promete muitas surpresas pelo caminho até o castelo das esmeraldas. Que o exemplo de superação desse bloco nos motive a seguir com coragem em nossa vida, com alegria e determinação. Boas escolhas. 

 
*Otavio Grossi, é filósofo, mestre em psicologia, psicopedagogo de autistas. Mentor de empresários. Escritor do livro Conquistas autênticas, da editora Candido. É colunista do jornal O TEMPO e participante do programa Interessa, nas segundas-feiras, na rádio Super FM.