OTÁVIO GROSSI

Ser obsessivo por padrões alimentares: ortorexia nervosa!

'O culto à magreza e as qualificações atribuídas aos magros têm contribuído para a elevação do número de transtornos mentais relacionados à alimentação'

Por Da Redação
Publicado em 13 de junho de 2022 | 03:00
 
 

Você segue padrões? Você sofre com eles? Os padrões de comportamento estão ao nosso lado, com ou sem o nosso consentimento. Sejam as formas de vestir, de comer, de falar, do tipo de atividade física a ser praticada, do que estudar, do carro a usar, das coisas de casa, os modelos de relacionamento, do perfil de trabalho, tudo nos envolve e dita direções. Caminhar na direção de uma vida plena significa repensar as forças que estabelecem esses padrões. E obter uma vida plena, de forma simples, significa pensar sobre ela, examiná-la. Sócrates, filósofo e pensador grego do século V, já anunciava: “A vida não examinada não vale a pena ser vivida”.

Um dos padrões que mais escuto, como terapeuta, é ditado quanto ao modelo de beleza corporal.  Assim, o culto à magreza e as qualificações atribuídas aos magros têm contribuído para a elevação do número de transtornos mentais relacionados à alimentação. Supervalorizar a magreza em detrimento da saúde pode invalidar a relação harmônica do homem com a comida, resultando em alterações importantes nas atitudes alimentares. Chamada de “ortorexia”, de forma mais livre, esse comportamento, que gera adoecimentos, é marcado pela busca desenfreada por comer de forma obsessivamente certa.

Esses padrões alimentares, reforçados ou não pelas mídias sociais, fazem muitas pessoas sofrerem por não se sentirem dentro deles ou, pior, por sentirem que nunca poderão alcançá-los. Padrões alimentares chegam a ser perversos, pois conseguem estabelecer, individualmente ou para grupos, o conceito de certo ou errado, de bom ou ruim, de aceitos ou não aceitos.  Pessoas são canceladas, para usar um termo atual, por não se enquadrarem neste ou naquele modelo ou tendência alimentar.

Mesmo vivendo um tempo de opiniões completamente obtusas e idiotas acerca do corpo, ainda assim sou um defensor do diálogo e do espaço para cada um manifestar seu pensar e estar em sintonia com sua corporeidade. O que não vejo possível é excluir pessoas e opções de ser porque essas atitudes fogem do seu padrão, principalmente relativos ao peso ou ao modelo corporal.

Imposição de dietas com regras pontuais de inclusão ou exclusão de alimentos a fim de suprir as necessidades nutricionais biológicas, mesmo que prejudicando as funções simbólicas da comida, levou ao enfraquecimento dos mecanismos internos de controle de fome, saciedade e vontade e pode transformar a pessoa em algo estranho. Digamos que é uma violência simbólica sobre a opinião do sujeito quanto ao seu corpo e sobre o modo como ele se relaciona com os alimentos, levando a transtornos alimentares.

A ortorexia surge ligada à busca pela alimentação perfeita, assumida como uma vigilância do instinto alimentar e das relações simbólicas com o alimento.

As relações com o nutrir-se abrem espaço para pensar quanto à forma de relacionamento com os alimentos, com a comida e os impactos dessa relação. Estamos nos esquecendo do sentido, do afeto, da comensalidade que nos envolve. Sentar-se à mesa é muito mais que uma ação, é um ritual, cheio de encontros e trocas. Antes de alimentar-se por uma busca desenfreada em ter, escolha ser! Boas escolhas.

 

*Otávio Grossi, é filosofo, mestre em psicologia, psicopedagogo de autistas. Mentor de empresários. Escritor do livro Conquistas autenticas, da Editora Candido. É colunista do jornal O tempo e participante do programa Interessa, nas quartas-feiras, na rádio Super FM.