Paula Pimenta

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Confissões de adolescentes modernos

Publicado em: Sáb, 18/01/14 - 02h00

No último domingo vi o filme “Confissões de Adolescente”. Eu estava ansiosa para assistir, pois nos anos 90, quando Maria Mariana escreveu o livro que deu origem ao filme, eu era adolescente. Esse livro rendeu também uma peça, a que eu assisti ainda em sua primeira formação, com a própria Maria Mariana em cena, e, anos depois, veio o seriado, que eu acompanhei fielmente.
A diferença do primeiro “Confissões” para o de agora me fez refletir em como a adolescência mudou de 20 anos para cá. Acho que a principal “culpada” disso foi a internet. Atualmente tudo é mais rápido. As relações são fundamentadas nas redes sociais. Conheceu alguém? Já pergunta o Facebook e o WhatsApp. Antes a gente pedia só o número do telefone... Que foi outra coisa que mudou.

Naquele tempo, não existia celular. Lembro que para ligar para minha mãe me buscar em algum lugar, eu precisava comprar uma ficha (que, pra quem não sabe, era tipo uma moeda), procurar um orelhão (ainda existem orelhões?) e só então discar, veja bem, discar! Ninguém teclava os números, era um disco mesmo, você colocava seu dedinho no número que queria e girava até o fim.

Outra diferença fundamental que percebo é no romantismo (ou na falta dele). Quando eu tinha por volta de 15 anos, era rara a menina que não era romântica e sonhadora. Hoje parece que inverteu. A maioria das garotas está tão realista... Eu, particularmente, acho que a gente já tem que encarar a realidade durante toda a vida adulta. A adolescência – que é a fase dos primeiros amores, de ficar imaginando, desejando, sonhando – passa tão depressa... Por que não aproveitar? Eu adoraria poder voltar no tempo exatamente para reviver aquelas emoções tão intensas que eu sentia. Minhas únicas preocupações eram os estudos e descobrir se aquele menino gostava de mim também...

Hoje vejo uma aproximação nas atitudes das meninas e dos meninos. Inclusive no jeito de falar. Em minha época de adolescente, as garotas eram mais “mocinhas”. Palavrão nem pensar! Percebo que agora os vocabulários feminino e masculino estão basicamente iguais. Não sei se isso é bom, talvez seja até um avanço, mas eu continuo achando que palavrão é feio, independentemente da época ou do sexo da pessoa.

E tem, claro, a estética. Antigamente, nós já nos preocupávamos com o corpo. Mas ninguém passava fome ou se matava na academia! Aliás, academia nem existia direito. A gente praticava esportes. Natação, vôlei, ginástica olímpica... A preocupação não era ser malhada, e sim magra. Mas, veja bem, magreza naquele tempo era ter pelo menos uns 10 kg a mais do que o considerado aceitável para os padrões atuais.

Ah, os cabelos... Sabe qual era a moda quando eu tinha uns 16 anos? Ter o cabelo anelado! Mas ninguém tinha babyliss ou Miracurl em casa. Para fazer cachos a gente amassava o cabelo com gelatina!

Uma mudança muito boa aconteceu de lá pra cá. A relação dos adolescentes com o cigarro. Era muito grande o número de jovens que começava a fumar na fase da escola. Era moda. Era chique. Hoje isso (graças a Deus) mudou. Cigarro agora é malvisto, considerado cafona. Antes as pessoas fumavam para parecer descoladas. Hoje as que fumam parecem tudo, menos isso.

Mas a diferença principal, com certeza, é a exposição constante em que os jovens de hoje vivem. O que se passava na minha cabeça, eu contava apenas para minhas melhores amigas. E somente meu diário tinha conhecimento de tudo que eu sentia. Nossa vida era mais misteriosa... Hoje em dia não. Uma das primeiras cenas do novo “Confissões de Adolescente” é exatamente a realidade diária que vivemos. Abrimos o Facebook e ele já pergunta: “O que você está pensando?”. Os adolescentes contam. Podem até não falar a verdade, mas revelam alguma coisa, e com isso todo o círculo de amizades (virtuais) deles fica sabendo, julgando, tirando conclusões.

Como eu disse, de 20 anos para cá, muita coisa mudou. Fico só imaginando como serão os jovens de 2033. Será que terá um novo remake de “Confissões de Adolescente”? Espero poder vê-lo nos cinemas, se é que isso ainda vai existir... Como tudo está mudando rápido, pode ser que eu veja através de alguma cápsula multimídia inserida diretamente em minha retina. Mas o que eu quero realmente acompanhar é como os adolescentes de hoje, já na idade adulta, irão divagar – como eu acabei de fazer – sobre as diferenças que os anos trouxeram. Aposto que eles, secretamente, também pensarão: “Na minha época, a adolescência era melhor”.

Ainda bem que todas as gerações pensam assim...

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