Paula Pimenta

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Fuso horário particular

Publicado em: Sáb, 15/11/14 - 03h00

Eu ainda era bem pequena quando minha mãe me ensinou que ligar para a casa dos outros muito cedo ou muito tarde era falta de educação. Mas acho que algumas pessoas não receberam esse ensinamento...

Na semana passada, passei por uma situação que me fez pensar em como cada indivíduo tem um fuso horário particular, e como isso às vezes não é respeitado. Eu estava no Maranhão, participando da Feira do Livro de São Luís. Após a minha palestra e sessão de autógrafos, que duraram até tarde, fui jantar, pois não consigo dispensar as iguarias da maravilhosa culinária nordestina... Ao voltar para o hotel, ainda fui arrumar a mala, uma vez que meu voo era no dia seguinte. Assim, quando fui me deitar já eram mais de 2h da manhã, mas eu não estava nem um pouco preocupada com o horário, afinal meu avião só sairia às 13h. Daria pra acordar lá pelas 9h30, tomar café com calma e ir para o aeroporto tranquilamente. Certo? Era o que eu achava.

Só que, exatamente às 7h da manhã, o telefone do meu quarto do hotel começou a tocar. Eu acordei sobressaltada, certa de que tinha perdido a hora, que não tinha escutado o despertador e que provavelmente já estavam lá embaixo esperando para me levar ao aeroporto! Mas não... O meu despertador ainda iria tocar dali a duas horas e meia, como eu havia planejado. No telefone era apenas uma moça da organização da feira que havia ligado para me avisar que iriam me buscar no hotel às 11h.

Veja bem... Se iam me buscar só às 11h, precisavam ter me ligado às 7h? Não podiam ter me avisado isso um pouquinho mais tarde? Especialmente em pleno domingo?! Mas, pelo visto, a mãe dela nunca ensinou que telefonar muito cedo é falta de educação. Ou então, o conceito de “cedo” para ela é bem diferente do meu.

Sempre fui uma pessoa muito mais noturna do que diurna. Às 18h parece que uma luz se acende na minha cabeça! Posso ter passado o dia inteiro com sono, mas basta que o sol se ponha para que eu desperte. Por isso, produzo bem mais à noite. Se eu me deitar às 22h, por exemplo, pode saber que vou ficar rolando na cama por horas, meu sono realmente não vem. Meu horário de dormir é por volta das 2h ou até 3h da madrugada. E dessa forma é natural que eu acorde um pouco mais tarde também.

Minha mãe conta que meu avô dizia que quem dormia até tarde era vagabundo, e por isso ele colocava todo mundo pra fora da cama bem cedinho, mesmo aos fins de semana. Acho que, no geral, as pessoas têm mesmo essa crença, pois, se me ligam às 9h e eu digo que acabei de acordar, geralmente tenho que ouvir: “Nossa, até agora...”, com um ar meio zombeteiro, como se eu fosse a maior preguiçosa. Quando, na verdade, na maior parte das vezes, eu durmo bem menos do que a maioria das pessoas, geralmente me satisfaço com apenas seis horas de sono. Mas desde que sejam seis horas estipuladas pelo meu fuso horário particular.

E acredito que esse fuso não seja só meu. Meu irmão outro dia me falou que gostaria de ir dormir com o mesmo sono com o que acorda de manhã. E de madrugada observo que as redes sociais são supermovimentadas. Tendo isso em vista, acho que – assim como quando viajamos para outro país precisamos nos adaptar ao fuso horário dele – as pessoas deviam também respeitar o fuso umas das outras. Aquele ensinamento da minha mãe, de dar uma margem de segurança no horário dos telefonemas, deveria ser uma lei, como a do silêncio. Depois das 22h não é proibido fazer barulho? Pois acho que essa lei deveria ser estendida até as 10h da manhã. As pessoas não são todas iguais, então os horários também deviam ser flexíveis. Já existem muitos locais que funcionam 24 horas, mas acho que seria ótimo se isso fosse um padrão. Gostaria que houvesse um rodízio de estabelecimentos: quando uns funcionassem de dia, outros funcionariam de noite. A população do planeta com hábitos noturnos, como eu, certamente agradeceria.

Como o mundo ainda não é assim e continua enxergando os horários pelo fuso “tradicional”, fica aqui o meu aviso. Se for me telefonar, já sabe: Pode fazer isso até as 2h da manhã ou então só depois das 9h. Senão você vai acabar me chamando de dorminhoca. Mas também vou me ver no direito de chamar quem me acorda “cedo demais” de sem educação...

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