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Magia de Natal

Comecei a recordar os natais da minha infância. Eu também vivia o Natal muito além da madrugada do dia 25 de dezembro. Não era um dia e sim uma data

Por Paula Pimenta
Publicado em 21 de dezembro de 2013 | 03:00
 
 
Helvio Avelar

Eu estava lendo “O Pequeno Príncipe” pela milésima vez, quando me deparei com a seguinte frase: “Quando eu era pequeno, todo o esplendor do presente de Natal estava também na luz da árvore, na música da missa de meia-noite, na doçura dos risos...”.

Comecei a recordar os natais da minha infância. Eu também vivia o Natal muito além da madrugada do dia 25 de dezembro. Não era um dia e sim uma data. Era o “período natalino”, quando tudo ficava mágico e minha única queixa era a falta daquela neve caindo, como naqueles filmes norte-americanos que todos os canais reprisam incessantemente ano após ano.

A escolha dos presentes era um momento esperado durante o ano inteiro. Meus pais nunca incentivaram a crença no Papai Noel, eles sempre perguntaram o que eu iria querer ganhar deles no Natal. E então a gente saía pelas lojas de brinquedos para escolher uma nova Barbie ou outra boneca qualquer que fosse moda no ano em questão. Apesar de escolher muito antes, eles só compravam depois, sem a minha presença, e isso gerava uma expectativa imensa por já ter tido o meu “sonho de consumo” tão perto, ter sentido por poucos momentos a felicidade que aquilo poderia me gerar, e depois ter esse sonho arrancado, com data marcada para voltar às minhas mãos. Acho que minha costumeira ansiedade nasceu nessa época...

Lembro que quando apareciam as primeiras árvores enfeitadas na cidade, minha mãe me levava a um prédio, na avenida Brasil, onde montavam em seu exterior uma árvore de luzes. Eu achava que aquela árvore era a coisa mais linda do mundo! Enorme, iluminada, imponente... Cresci, fiquei muito tempo sem ver a tal árvore e, há alguns anos, lembrei e dirigi até o local, para rever aquele “espetáculo”. Que decepção! A árvore magistral era, na verdade, uma arvorezinha das mais simples... As suas luzes pareciam meio desbotadas e o prédio que ela iluminava nem era tão grande assim. Teria a árvore diminuído e perdido o brilho? Que nada! Minha mãe afirmou que a árvore era a mesma de sempre. Então quem mudou fui eu, que antes olhava aquelas luzes no contexto de magia que as crianças veem no Natal. Para mim, ela era uma árvore encantada, linda perfeita... Daí a decepção. Agora eu enxergo a pobre árvore como ela realmente é, sem sonho, sem ilusão.

Mas, atualmente, meus Natais ainda são bons. Acho que mais do que receber presentes, gosto de imaginar o que minha família, namorado e amigas iriam gostar de ganhar. Gosto do ritual de “enfrentar” o shopping, escolher e embrulhar. Adoro notar a expressão deles ao abrir o embrulho. Sua satisfação é meu maior presente. Gosto também da confraternização, do jantar à meia-noite, das festas depois da ceia, do almoço com a farta “sobra” no dia seguinte, dos abraços, dos desejos de paz e prosperidade.

Sei que muita gente acha que o Natal é apenas mais uma data comercial, onde as pessoas se esquecem do verdadeiro sentido dele: o nascimento de Cristo. Mas eu penso assim: No meu aniversário, eu gosto que todos meus amigos comemorem a data comigo, se divirtam e se sintam tão felizes quanto eu... Por isso mesmo, aposto que Ele também gosta disso. E acho que adoraria se nós olhássemos cada luz e, principalmente, cada pessoa com os olhos da criança que já fomos. Com certeza, essa data e a nossa vida teriam muito mais brilho se recuperássemos o sonho, se deixássemos a fantasia tomar conta.

Assim, o Natal seria realmente muito mais do que ganhar um presente. Seria se deliciar com as músicas, se encantar com as luzes, se fartar com os sorrisos. Seria desembrulhar aquela esperança infantil que já tivemos nas mãos e que guardamos em algum canto da alma e esquecemos que deveríamos ter marcado uma data para recuperá-la. Assim, poderíamos voltar a acreditar que a vida pode ser mágica... como uma noite de Natal.