PAULA PIMENTA

Margarina em extinção

Redação O Tempo

Por Da Redação
Publicado em 01 de fevereiro de 2014 | 03:00
 
 
hélvio

Todos os dias dezenas de textos circulam na internet, vários deles manjados, antigos, mas que continuam inundando os e-mails e as redes sociais. Poucos me interessam, mas essa semana vi um que sempre que aparece eu não resisto a fazer uma nova leitura. Ele – juntamente com outros dois que eu também não consigo ficar sem reler – trata de uma “doença” da atualidade: a revolta feminina frente aos novos papéis que a mulher acumulou de umas décadas pra cá.

O primeiro desses textos se chama “Desabafo de uma mulher moderna”. Nele, uma executiva se mostra insatisfeita com as feministas do passado por terem tirado das mulheres o direito de ser a “rainha do lar” e as colocado na guerra que é a vida da mulher moderna.

O segundo se chama “Bunda Mole”. Este é bem engraçado e fala da revanche de uma mulher que foi chamada de preguiçosa pelo marido.

O terceiro deles – “Eu me rendo” – é sobre o dever que as mulheres atualmente têm de se equilibrar como dona de casa, trabalhadora, mãe, esposa, e a incompatibilidade de exercer todas estas funções ao mesmo tempo.

Mas o fato é que isso me lembrou de um livro que li há algum tempo: “Swapping Lives”, da autora Jane Green. Nele, uma diretora muito bem-sucedida de uma revista de sucesso, que vive uma vida de glamour em Londres, sonha em trocar tudo por filhos, marido e uma vida no campo. Ou seja, a vontade de querer voltar no tempo não é apenas das brasileiras.

É incrível que mesmo tendo se passado quase 50 anos desde a “queima dos sutiãs”, as pessoas ainda não se adaptaram totalmente à emancipação feminina. Antigamente (e nem tão antigamente assim), as mulheres (ou pelo menos a maior parte) não trabalhavam fora, por isso tinham mais tempo para os filhos, os acompanhavam de perto, interferiam, ensinavam... Acho que isso era importante para a solidez familiar. A maioria das crianças hoje em dia cresce muito solta... Com isso, muitos valores se perdem e o que mais se vê agora são jovens revoltados, avançados para a idade, liberais demais... E são eles que vão comandar o mundo daqui a alguns anos.

As pessoas têm se divorciado muito mais do que no passado e isso também se dá por causa dessa emancipação: A mulher não depende mais do pai, nem do marido. Agora pode (e deve) procurar uma vida melhor, se aquela de casada não a estiver agradando. Com isso, os homens ficam meio perdidos, antes eles eram os provedores, e atualmente muitas mulheres ganham mais, sustentam a casa e isso gera uma disputa (até inconsciente) pelo poder.

Também nos outros setores, tarefas antes consideradas masculinas – como trocar um pneu, dirigir um táxi (ônibus, caminhão), ser policial – estão sendo feitas por mulheres, e isso ainda não foi bem assimilado pela sociedade. As mulheres já fazem tudo que os homens fazem, mas ainda são mal vistas se agem como eles em alguns campos, como tomar a iniciativa na paquera ou dormir junto em um primeiro encontro.

A competitividade do mercado dobrou, antes só os homens participavam dela, agora mulheres disputam com eles (e entre si) postos cada vez mais altos, qualificações são cada vez mais necessárias e, com isso (e novamente), menos tempo para a vida familiar.

Além disso, a nossa sociedade exige cada vez mais que as mulheres sejam magras, malhadas, bem-cuidadas e também que trabalhem muito e deem conta de tudo. E aí acaba acontecendo essa revolta geral: Das mulheres, que se sentem exploradas, e dos homens, que se sentem excluídos. As famílias de comercial de margarina, onde os integrantes são felizes, unidos e fazem todas as refeições juntos, estão em extinção.

Em minha opinião, as mulheres tem que trabalhar sim. Eu, pelo menos, não aguentaria ter que pedir dinheiro para qualquer necessidade. É muito bom ser independente. Mas também não acho saudável esse acúmulo feminino de tarefas. O ideal então seria um meio-termo, um meio-horário, trabalhar meio-período fora e, no restante do dia, cuidar da família. Talvez voltar ao passado só na metade do tempo... Ou não vamos mais parar de ler textos com desabafos de mulheres revoltadas.