Paula Pimenta

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Velhice

Publicado em: Sáb, 15/03/14 - 03h00

Li certa vez uma citação que me marcou: “Espero ansiosamente pela velhice. Esta é a única fase da vida em que a inteligência é mais valorizada do que a beleza”. Infelizmente não me lembro a sua autoria e nem onde a encontrei, mas ela sempre me volta à cabeça.

Desde que nascemos, aprendemos a conviver com a idade. Uma das primeiras lições que é ensinada a um bebê é como mostrar nos dedinhos quantos anos ele tem. Na medida em que vamos crescendo, nos sentimos orgulhosos de mostrar as mãos cheias com a quantidade de anos já completados. De repente, quando os dedos das mãos e dos pés já não são mais suficientes, começamos a subtrair os anos, como se fazer aniversário tivesse se tornado uma coisa vergonhosa.

Um tempo atrás vi uma estatística que apontava que daqui a 50 anos o número de jovens e de velhos no Brasil, pela primeira vez, será o mesmo. A reportagem sugeria ainda a possibilidade de um choque de gerações devido ao desprezo que os mais novos têm em relação aos idosos.

Segundo a revista, uma forma de amenizar esse embate seria começar agora uma campanha de valorização ao idoso. Acredito que essa campanha seja muito importante, mas não no sentido de pedir para que os jovens valorizem os mais velhos e sim que nós próprios nos valorizemos na medida em que envelhecemos.

Eu devia ter uns sete anos de idade da primeira vez que encontrei um cabelo branco. Minha primeira ruga veio aos 22. Ainda sou considerada uma menina por alguns, talvez pela privilegiada genética que herdei da minha família, mas a minha carteira de identidade não me deixa negar. Mas o erro é exatamente esse. Negar. Por que eu deveria esconder a idade se – como bem disse um amigo meu em seu aniversário – apenas com a idade que tenho eu poderia ter passado por tudo que já vivi? Vergonha dos anos que completei? De tudo que aprendi? Das pessoas que conheci?
Dos lugares por onde andei? De cada segundo que respirei?

O que tem que ser mudado é essa ilusão de que quem é jovem é superior. Será que sou melhor do que a minha mãe apenas porque a minha pele é mais lisa do que a dela? Pois eu digo que a minha avó é superior a nós duas juntas. Cada uma daquelas lindas rugas que ela tem é a marca de uma emoção que ela passou, é a prova de que ela aproveitou devidamente a sua vida.

Se me perguntassem se eu gostaria de voltar aos 18 anos, eu só aceitaria se pudesse – juntamente com anos que me seriam devolvidos – ter também a minha cabeça atual. Minhas primas mais novas, algumas vezes, brincam me chamando de “velha” quando eu me recuso a ir em alguma festa para a qual elas me convidam. Pois eu nem ligo. Antigamente, eu sentia como se tivesse a obrigação de aceitar cada convite, saía todos os dias como se a minha vida estivesse escorrendo pelas minhas mãos se eu ficasse dentro de casa. Rodava pela cidade, passava em quinhentos lugares na mesma noite, encontrava um milhão de pessoas e ia dormir com um enorme vazio interior.

Pois hoje eu recuso mesmo. Sair do aconchego do meu lar só se for por um programa que valha muito a pena. Prefiro ficar em casa curtindo meus livros, minha família, meus cachorros, curtindo a mim própria. Se velhice for isso, que venham logo mais anos. Porque para mim isso tem outro nome: sabedoria.

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