PAULA PIMENTA

Viagem no tempo

Redação O Tempo

Por Da Redação
Publicado em 18 de abril de 2015 | 03:00
 
 
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Alguns dias atrás, revi um dos meus filmes nacionais preferidos: “O Homem do Futuro”. Nele, Zero, o personagem interpretado por Wagner Moura, constrói uma máquina do tempo e volta ao passado para tentar modificar algumas situações e, com isso, ter um presente diferente. Mas – como em todos os filmes do gênero – o protagonista acaba percebendo que alterar o passado transforma o futuro nem sempre pra melhor.

Como sempre, depois de ver um filme desse tipo, me peguei pensando para qual época da minha vida eu iria caso pudesse fazer uma viagem no tempo.

Acho que a maioria das pessoas gostaria de visitar a própria infância. Geralmente, ela é uma fase tão descompromissada que dá mesmo saudade. A vida, nessa fase, é uma grande brincadeira, e todos os problemas (caso existam) somem depois de uma noite bem-dormida. Mas se tem uma época para onde eu realmente gostaria de viajar seria pra minha adolescência.

Muitos adultos dizem que a adolescência é uma fase terrível, que não gostam nem de se lembrar, mas eu não concordo. Dos 13 aos 19 anos (os famosos anos teen, em inglês), temos ao mesmo tempo o melhor da infância e da vida adulta.

Na adolescência, você já sabe muito bem do que gosta, já consegue argumentar com sua mãe, já pode convencer seu pai a deixá-la participar daquela festa para onde todo mundo está indo. Nessa fase, também, tudo é meio desculpado. Ao mesmo tempo em que você já é responsável o suficiente para tirar boas notas, votar e saber o que é certo e errado, ninguém acha um absurdo se você erra ou comete algum deslize, afinal, você ainda está aprendendo.

Com 13 anos você pode dormir na casa da amiga sem que sua mãe fique preocupada se você vai se alimentar bem ou acordar no meio da noite chorando. Aos 15, ninguém vai achar estranho se você arrumar um namorado... Seu pai pode até ter ciúmes, mas é natural que nessa fase você descubra o amor. Aos 17, todo mundo pensa que você já é madura o suficiente para escolher a profissão que terá pelo resto da vida. Mas, ao mesmo tempo, nada disso é obrigatório. Se te der vontade de ir embora da casa da amiga, se você não quiser namorar, se você ainda não souber o que fazer no vestibular, ninguém vai te crucificar, ninguém vai achar que você está errada, que tem um problema ou que precisa fazer terapia. A adolescência é uma fase de descobertas, de experiências, de tentativas, de erros e acertos. E é exatamente por isso que eu gostaria de voltar a ela.

Eu queria ter a chance de ter um encontro comigo aos 16 anos. Queria poder falar para aquela menina que eu era, e que se achava tão adulta, que tudo iria ficar bem. Que aquele garoto por quem eu era apaixonada era também apenas um menino, como tantos outros de que eu iria gostar, e não um “deus” como eu imaginava... Eu queria poder contar para mim mesma que, em vez de perder tempo com amores platônicos, deveria investir no amor-próprio, pois ele é que é a chave para atrair as outras pessoas. E eu queria poder ir lá também pra me dar umas dicas de corte de cabelo e maquiagem, me dizer pra não ser tão tímida e me mandar fazer ginástica todos os dias.

Mas, por outro lado, se eu encontrasse uma forma de contar essas coisas todas para a Paula adolescente, talvez eu não seria quem eu sou hoje. Tive que viver cada segundo da minha vida para aprender o que agora eu sei. Como o personagem de Wagner Moura no filme descobriu, tem certas coisas pelas quais temos que passar para que possamos usufruir plenamente de outras no futuro.

Se na adolescência eu não tivesse sofrido por amor, talvez não tivesse descoberto que escrever era uma forma de afogar aquela angústia toda, pois foi exatamente naquela fase que eu percebi que me sentia bem ao colocar meus sentimentos no papel. Então, se pudesse me visitar no passado, talvez eu tivesse poupado um tempo valioso em alguns aspectos... Mas isso teria mudado a minha vida completamente, e eu não estaria aqui, neste momento, escrevendo para vocês.
Ainda bem que eu não sei construir uma máquina do tempo...