Paulo Cesar de Oliveira

O jornalista e empresário escreve na terça-feira

Paulo César de Oliveira

A corrupção carioca

Publicado em: Ter, 01/09/20 - 03h00

O tal de Wilson Witzel é um corpo estranho na política brasileira. Ele estreou nas urnas em 2018, abandonando uma carreira de juiz federal para saltar nos trilhos da vida política. Witzel é apenas mais um que se aproveita da carência política do eleitor, sempre em busca de um “paizão”, valentão de preferência, que se diz de passado, presente e futuro limpos e inteiramente compromissado com mudanças, com uma forma nova de fazer política, que vai extirpar da vida brasileira corruptos e enganadores do povo.

Witzel não foi o único a navegar nessas águas em 2018. Muitos outros se elegeram para cargos no Executivo e nas Casas Legislativas. Para Witzel, uma figura impoluta, afinal, um juiz acostumado a punir criminosos, foi ainda mais fácil fazer o contraponto com figuras execráveis da política do Rio, ex-governadores condenados – como Sérgio Cabral, com penas que já somam quase 300 anos – e outros que respondem a processos e que, ao contrário de Cabral, ainda não estão encarcerados, além de parlamentares, de senador a vereador, em investigação.

Witzel desde sempre se mostrou o protótipo do populista que se notabilizou ao descer saltitante de um helicóptero para comemorar, sem pudores, a morte de um assaltante de ônibus e anunciar que sua orientação era para a polícia, em situações semelhantes, atirar “na cabecinha” do bandido. Fez tanto sucesso que anunciou com toda cara de pau a pretensão de disputar a Presidência da República em 2022. Assinou sua sentença. Passou a ser alvo de atenções muito especiais, até ser flagrado fazendo exatamente o que, como os outros, prometeu combater.

Nos últimos meses, essas cenas espetaculosas de prisão, condução coercitiva, busca e apreensão e afastamentos têm marcado a vida nacional. Ruim para nós. Elas apenas expõem os cânceres de nossa vida política e mostram que não temos tratamentos eficazes para eles. A Lava Jato de Sergio Moro, que hoje cabeças coroadas da política tentam enterrar, chegou a criar a expectativa de que começávamos a enfrentar a corrupção, nosso mal maior. Qual o quê! Ficamos em umas poucas prisões, quase todas relaxadas em outras estâncias, e num monte de inquéritos que se arrastam ou processos que são procrastinados – como os que apuram as falcatruas envolvendo os ex-governadores de Minas Aécio Neves e Fernando Pimentel –, pois a legislação penal, lamentavelmente, é frouxa com todos e até carinhosa com os poderosos.

Já passou da hora de revermos nossa legislação processual penal. Quem tem bons advogados e amigos fraternos, ou mesmo interesseiros, sempre encontra uma forma de adiar decisões, provocando no cidadão comum a sensação de impunidade, a sensação de que na política – embora não apenas nela – a esperteza e a corrupção compensam. Compensa tanto que a maioria insiste em continuar disputando mandatos, mesmo denunciados, e até condenados, mas ainda não cumprindo pena.

E nós, cidadãos comuns, ainda somos obrigados a ouvir discursos de quem, pego com a mão na massa, ainda vem dizer que é um pobre injustiçado e perseguido, que é maldosamente exposto por quem quer destruir sua reputação, fazendo vazar informações que são sigilosas de inquéritos não terminados. A esses uma sugestão: provem que são inocentes. Parem de recorrer. Deixem que o julgamento aconteça para que sejam, finalmente, absolvidos. Farão um enorme bem a vocês e ao país.

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