Paulo Cesar de Oliveira

O jornalista e empresário escreve na terça-feira

A hora não é de diretas já

Publicado em: Ter, 30/05/17 - 03h00

Não é que seja absurda a tese, mas discutir agora a realização de eleições diretas para a escolha de um substituto para o presidente Michel Temer é absolutamente extemporâneo e descabido. Primeiro porque o presidente está no cargo de acordo com o que determina a lei. Dizer que ele é ilegítimo por não ter sido escolhido diretamente pelo povo é má-fé intelectual. Temer está no cargo porque assim manda a lei.

E já que abordamos o terreno do absurdo, vai aí um questionamento que, para muitos, pode soar como tal: quantos votos teve Dilma Rousseff e quantos votos teve Temer? Se fosse outro o vice, outra a coligação, ela teria sido eleita?

Pois então, o presidente está presidente como manda a Constituição. Ah, mas ele está politicamente desmoralizado pelas delações! Sim, está, mas ainda não foi julgado nem condenado. Mas ele pode ser cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral. Pode, ele e Dilma, mas ainda não foi.

Então, não há razão para precipitar os fatos e pedir diretas agora. Mas, já que o tema foi colocado, será interessante, num momento posterior, analisá-lo. Escolher alguém a toque de caixa, numa eleição chamada por causa de uma crise, é mesmo a melhor solução?

A disputa não agravaria a crise, jogando gasolina no fogo político e das vaidades? Por quanto tempo o eleito governaria? Com qual Congresso? Hoje, com este Congresso que aí está, convenhamos, seria um desastre. Ninguém iria negociar com um governo de curta duração.

Ou, está aí o outro lado da discussão: seria feita uma eleição para um novo mandato completo? E os legislativos? Então, se vê que são muitas as questões envolvidas, muitas dúvidas e apenas uma certeza: diretas agora seria apenas um fermento para a crise.

Que se queria discutir essa questão mais à frente, de uma forma mais profunda, é bastante razoável. Agora, o melhor mesmo é buscar a Constituição e ver o que ela prevê para situações assim. Podem até achar que não é a melhor solução, mas, certamente, é a mais segura. Ninguém poderá dizer que é golpe. Aliás, golpe mesmo é mudar agora o que estipula o texto constitucional.

É tentativa de um grupo político de tentar voltar ao poder, acreditando que seu candidato tem mesmo a liderança que as pesquisas indicam. Mas terá mesmo? Os diferentes grupos de esquerda estimulam a discussão muito mais para questionar a legitimidade de Temer e suas propostas de reformas. Até acreditam que Lula pode sair, sim, vencedor de uma disputa eleitoral, mas e daí? Teria ele condições de governar sob suspeita como está? A simples unção das urnas não garante a legitimidade muito menos a governabilidade.

Ou – para o grupo que defende, com ardor, a diretas já para superar a crise responder – quem sair das urnas terá respaldo para governar com o apoio de todos? Afinal, ele chega escolhido pelo povo. Mas, se o povo escolher, por exemplo, o Jair Bolsonaro, os democratas das diretas já vão respeitar?

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