Paulo Cesar de Oliveira

O jornalista e empresário escreve na terça-feira

A necessidade da reforma

Publicado em: Ter, 26/02/19 - 03h00

Tá certo. Se não fizermos a reforma da Previdência, vamos acabar quebrados. Aliás, quebrados já estamos, só não fechamos as portas. Que essa reforma é necessária, ninguém duvida. Só os que vivem no mundo do Lula acreditam que ela é dispensável e que está sendo promovida apenas para prejudicar os mais pobres, sem olhar a realidade de outros países, que já trilharam nossos caminhos e faliram. Necessário mudar é, mas será que exatamente como está sugerindo o governo? Não digo que a proposta do Planalto seja ruim ou que esteja direcionada para certos setores. Ela pode ser a ideal. Mas também pode não ser a ideal ou até mesmo a necessária. Há grupos suspeitos, e até insuspeitos, que defendem e criticam o projeto encaminhado ao Legislativo. O que penso é que o assunto é de tal ordem complexo, envolve tantos interesses, que não pode ser votado sob pressão e a toque de caixa. Por mais que o país precise de ajustar suas contas e demonstrar aos investidores seriedade de propósitos, não pode decidir as mudanças na velocidade que o governo está exigindo, numa quase chantagem com o Congresso. E a credibilidade para impor celeridade ao processo ele perde na medida em que demora a encaminhar o projeto com a reforma da Previdência dos militares. Por qual razão decidiu ter mais cuidado na formulação da proposta? Cuidados especiais com o quê? Medo de reações? O vacilo corporativista, queiram ou não, acabou gerando dificuldades políticas que, com certeza, vão atrasar ainda mais as votações. Isso sem contar a pressão de setores que serão mais atingidos exatamente por serem hoje os mais privilegiados. Nessa briga, não tenham dúvidas, quem ficará com o menor poder de pressão serão exatamente os trabalhadores da iniciativa privada. A irresponsável partidarização das entidades representativas dos trabalhadores na era petista enfraqueceu-as. Hoje, não têm credibilidade nem liderança para comandar qualquer reação. Quem não é trabalhador da área pública, não se iluda, terá que engolir a reforma como ela vier. Boa ou ruim. Qualquer protesto, qualquer reação será facilmente reprimida como “coisa do PT”.

Se no Congresso será difícil, será ainda mais nas Assembleias estaduais. As adaptações das legislações estaduais às normas da Constituição Federal e às leis federais vão demandar muito esforço dos governadores e dos prefeitos, que também terão que promover mudanças em suas normas. As pressões serão mais diretas, quase pessoais. Pressionados, até que ponto eles poderão influir nas decisões da Câmara Federal e do Senado? Há uma tentativa de governadores, liderados por João Doria, de São Paulo, de formar uma frente em defesa de uma rápida definição da reforma previdenciária. É que, sem ela, acreditam, dificilmente será possível retomar os investimentos. Razões eles têm de sobra para se alinharem com o ministro Paulo Guedes. A questão é saber até que ponto conseguirão ajudar. E qual poder de convencimento terão para conquistar votos entre suas bancadas. É que o chamado “poder de convencimento” às vezes custa caro.

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