Paulo Cesar de Oliveira

O jornalista e empresário escreve na terça-feira

A punição tem que vir

Publicado em: Ter, 29/01/19 - 02h00

Quando, há três anos, estourou a barragem da Samarco, em Mariana, numa sexta-feira, dia 5 de novembro, encerrávamos o Fórum Brasileiro de Mineração. Para todos nós foi um grande susto e perplexidade total. Algo inimaginável mesmo para os que, militando no setor, conhecem os riscos da atividade. Inimaginável também foi a postura do então presidente da Samarco, Ricardo Vescovi, que se manteve em silêncio, como se ele e a empresa que presidia não tivessem qualquer responsabilidade sobre os fatos. A Vale, como sabem, é sócia da Samarco. Diferentemente, Fábio Schwartzman, que comanda a Vale, já nos primeiros momentos da tragédia de Brumadinho, se mostrou presente. Deu a “cara a tapa”, sem assumir culpa, mas não fugindo das responsabilidades. Infelizmente, sua postura profissional e humana não diminui o drama e a dor das famílias que perderam ou vivem a dúvida da perda de algum ou alguns de seus entes, no maior desastre socioambiental do país, superando em muito o de Mariana. Mas, pelo menos, não deixou um vazio de responsabilidade. Tomara que esse sentimento não se frustre. Que não tenhamos uma nova Mariana. Passados três anos, milhares de linhas escritas, horas e mais horas de entrevistas, e nada se resolve. O desejo de punição aos responsáveis, punição criminal onde for o caso, e punição cível, com reparação de danos, não é apenas por vingança, como se pode pensar. É também e até, principalmente, de prevenção. Tivéssemos atitudes mais firmes, menos demagogia, talvez a tragédia não tivesse se repetido. A impunidade, como já disse aqui, é a mãe da reincidência. Quando ela se junta à ganância, então... Mas não é apenas a ganância empresarial que nesses momentos todos acusam. Ainda mais sórdida é a ganância dos que se aproveitam da desgraça alheia para posar de profeta do passado, propagandeando aos quatro ventos “eu já sabia dos riscos”, que avisara com antecedência, embora nada tenha feito de efetivo. Ganância dos que se aproveitam do desespero alheio para estimular ações de valores exorbitantes das quais embolsarão parte. Ganância dos que se aproveitam da enorme cobertura da mídia para anunciarem ações que nunca colocarão em prática. A hora é de seriedade. De conter impulsos sórdidos. De agir, não de falar. Aliás, confiram os dicionários. O agir vem antes do falar.

E, por falar em agir, em Minas são mais de 300 barragens, não apenas de mineradoras, em condições desconhecidas. Quando uma se rompe, arrastando num mar de água e lama vidas e patrimônios, como em Mariana e agora em Brumadinho, surgem as promessas de providências, de fiscalização rigorosa, de punições. Por não agirem, por não terem compromisso nem responsabilidade, fazem caras e bocas de piedosos e bravos depois que as tragédias acontecem. E aí montam gabinetes de crise para acompanhar a desgraça alheia, sem qualquer resultado prático. Gabinete de crise é apenas o outro nome da falta de prevenção e de responsabilidade. Basta.

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