Paulo Cesar de Oliveira

O jornalista e empresário escreve na terça-feira

A reforma política não sai mesmo

Publicado em: Ter, 19/09/17 - 03h00

O prazo para a reforma vai ficando mais estreito, e nada se decide. Há pontos da reforma que estão avançados numa Casa ou em outra, mas que dificilmente conseguirão ser analisados e votados nas duas Casas.

Enfim, como já se sabia e era perfeitamente previsível, não há qualquer interesse em promover uma reforma política que seja mesmo para fazer mudanças. De modo geral, leis brasileiras nessa área têm nome e sobrenome de quem atenderão. Não se faz uma lei que atenda os interesses do país, dos Estados ou dos municípios. Ainda mais se for de iniciativa de parlamentares. Por regularem questões de interesse pessoal do parlamentar ou de pequenos grupos nas Casas legislativas, fica difícil, se não impossível, o encontro de consenso. É claramente o que está acontecendo com essa tal reforma que vai se tentar, anunciam isso, nesta semana. O tal entendimento, se já era difícil, muito mais improvável ficou com o aumento da rejeição aos políticos. Isso coloca em risco mandatos de muitos políticos profissionais, e ninguém quer aumentar o risco de uma derrota nas urnas em razão de mudanças no processo eleitoral.

Se está difícil dentro das regras que todos sabem manipular tão bem, pior será com as alterações. As velhas lideranças defendem que é melhor fazer pequenos acertos sem mudar nada na essência. E, com isso, ou tudo fica como está, ou teremos novamente o Judiciário legislando. Dá-se como certo, por exemplo, o fim das coligações, decretado não por aprovação do Legislativo, mas por julgamento de ação no Supremo. Depois será a vez de o TSE se impor diante da omissão dos parlamentares e ditar regras da disputa. Mesmo sem saberem as condições da disputa, nossos políticos vão em frente. A sucessão presidencial já está nas ruas. É bem verdade que os pretendentes se comportam como “Napoleões de hospício” em qualquer proposta consistente, com discurso que se sustenta apenas no ataque a tudo e a todos. Já temos até candidato a ditador. Tem de tudo.

Até aqui o que nos tem faltado é gente séria disposta a, no mínimo, não atrapalhar o país que cresce, apesar de seus governos. É essa porção de Brasil que precisa reagir, conter o avanço dos aventureiros, deixar de pensar nos benefícios de curto prazo e ir à luta para tentar viabilizar um projeto de poder voltado para os interesses do país.

Um dia, os trabalhadores brasileiros imaginaram ter chegado ao poder. Mal sabiam que estavam tão distantes dele como sempre estiveram. Nas cadeiras do poder permaneceram os mesmos, travestidos defensores do povo. O risco é que essa situação perdure, embora com novos atores. Se não houver conscientização e coragem para assumir posições, correremos risco de entregar o poder a outro grupo de atores para encenar a mesma peça. Até onde a vista alcança, o que temos pela frente chega a assustar. Será que não existe ninguém com capacidade de governar? Só governar, sem se preocupar em fazer milagres?

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