Paulo Cesar de Oliveira

O jornalista e empresário escreve na terça-feira

Opinião

A Vale tem que abrir

Publicado em: Ter, 08/12/20 - 03h00

Já se passaram mais de cinco anos, e a Vale – em que pesem todas as promessas e decisões judiciais – até hoje não pagou as indenizações às vítimas do desastre ambiental causado pelo rompimento da barragem de Mariana. Discussões e mais discussões, pareceres e mais pareceres, picuinhas e mais picuinhas, e a Vale vai postergando o acordo e, consequentemente, o pagamento, mostrando a sua insensibilidade com os terríveis danos materiais e morais até hoje não ressarcidos. 

Veio o rompimento da barragem de Brumadinho como fruto da irresponsabilidade e do desprezo pela vida humana e pela natureza, com centenas de mortes, e a Vale continua enrolando, postergando um pagamento que é devido.

A dívida da Vale, não com o governo de Minas Gerais, mas com a gente mineira, passa de R$ 36 bilhões. Esse dinheiro, certamente, não minora o sofrimento dos atingidos pelas tragédias, mas muito poderia fazer pelo Estado.

Amanhã, dia 9, se reúnem o governo de Minas, a diretoria da Vale e muitos órgãos de diferentes níveis de poder, para uma nova rodada de negociações, mas a julgar pelo comportamento, não da empresa, mas dos que a comandam – a insensibilidade, não nos esqueçamos, é das pessoas físicas, não da pessoa jurídica –, mais uma vez, esse acordo pode não sair. Por isso, é preciso que o governo de Minas se imponha na defesa dos interesses de seu povo. Até aqui, a Vale tem se valido de todas as artimanhas jurídicas e do apoio de alguns órgãos coniventes com esse comportamento e sem qualquer compromisso com Minas Gerais e com os mineiros.

Enquanto esses órgãos e as ditas autoridades continuarem agindo com leniência, com favorecimentos, em detrimento de Minas e dos mineiros, os dirigentes da Vale – não nos esqueçamos nunca de que são os dirigentes, não a companhia – continuarão protelando soluções, num comportamento vil. Já se sugeriu que o governador de Minas se sentasse à mesa, isoladamente, com o presidente da Vale para tentarem fechar um acordo que envolve interesses de tantas pessoas. Mas essa é apenas uma proposta a mais que em nada resultará, caso os diretores da Vale não se conscientizem de que se busca é reparação de danos causados por ela na ganância pelo lucro. As vidas perdidas não são indenizáveis.

Aliás, é preciso que se expanda esta mesa de conversações. Não para negociar, pois com vidas humanas não se negligência, mas para exigir agilidade nas providências, não apenas da Vale, mas de todas as outras mineradoras, para reduzir os riscos de novos rompimentos de barragens não apenas em Minas, mas em todo o território brasileiro.

Só em Minas, são 364 barragens usadas pela mineração. Impossível qualquer afirmativa sobre o nível de segurança destas estruturas. Os governos, tanto o federal quanto o estadual, são omissos e não disponibilizam técnicos para a fiscalização e controle destas barragens, num descaso imperdoável que pode resultar na perda de muitas vidas.

 

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