Paulo Cesar de Oliveira

O jornalista e empresário escreve na terça-feira

Paulo César de Oliveira

Bolsonaro quer ficar

Publicado em: Ter, 19/07/22 - 03h00

Confesso que, até então, não acreditava que o presidente Bolsonaro estava de fato pensando em dar um golpe. No entanto, essa neura com as urnas eletrônicas – que em todos estes anos, desde que foi implantada pelo então presidente do TSE, ministro Carlos Mário Veloso, nunca registrou uma fraude – evidencia que ele busca um motivo para sustentar um golpe “em defesa da democracia”.

Bolsonaro foi eleito deputado federal por vários mandatos – de 1991 a 2018 – e nunca reclamou das urnas eletrônicas. Passou a questionar o sistema brasileiro após Trump levantar dúvidas sobre o sistema americano depois de derrotado na tentativa de reeleição, chegando a afirmar que teria vencido a disputa em primeiro turno e que o TSE fraudou o resultado obrigando-o a disputar o segundo turno. Nunca apresentou – nem ele, nem seus seguidores – provas das supostas irregularidades, mas insiste em dizer que elas existiram. 

A sua briga pública com alguns membros do Supremo Tribunal Federal (STF), o seu estímulo a aliados contra ministros do TSE, é uma prova de que quer desmoralizar o Judiciário para viabilizar seu projeto autoritário. O seu casamento descarado com o centrão e a aprovação da PEC do estado de emergência, criando e ampliando benefícios para o povo até 31 de dezembro, passando por cima da Constituição, mostra todo espírito eleitoreiro do seu comportamento político de desafio ao Judiciário. Se vai dar certo é uma incerteza. O fato de ter convocado novamente um general para ser seu vice é uma evidência de que quer cooptar o Exército para seu lado.

Hoje os sinais são de que não conta com uma maioria tranquilizadora dentro das Forças Armadas para sustentar o que parece ser seu projeto de poder. Pode ser que nada que o capitão Jair Bolsonaro parece articular dê certo, e o ex-presidente Lula vença as eleições. Dizem que Bolsonaro não vai aceitar e que teremos uma confusão armada. Estamos realmente numa hora difícil e as nossas lideranças políticas devem estar firmes em defesa da democracia.

Esta ação do presidente, que para alguns significa premonição de derrota, serve apenas para atiçar seus aliados mais radicais – civis e militares – e gerar instabilidade jurídica e econômica no país. As dificuldades para os eleitos – elas atingirão também os governadores – serão principalmente para atrair investimentos e conter a violência que, já agora, atinge níveis inacreditáveis. 

Com o aumento da pobreza e do desemprego já desenhados, aliados ao radicalismo estimulado hoje pelos políticos, sem nenhum catastrofismo, vai gerar o radicalismo violento que, por sua vez, gera o aumento da violência da repressão do Estado, numa roda viva que, invariavelmente impões perdas à democracia. Confesso não saber se ainda há tempo de reverter esta situação, acabando com esta insanidade a disputa eleitoral. Difícil porque o que se vê nos candidatos é uma sede de poder, e não uma preocupação real com o país e seu povo.

Paulo César de Oliviera é jornalista e empresário

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