Paulo Cesar de Oliveira

O jornalista e empresário escreve na terça-feira

E a reforma política?

Publicado em: Ter, 19/02/19 - 03h00

Ela era a “mãe de todas as reformas”, imprescindível para que as demais fossem feitas com credibilidade. Agora, ninguém mais fala nada. A da Previdência ganhou a prioridade sob a alegação de que, sem ela, o Estado, já em colapso, entraria em falência, como aconteceu na Grécia. Depois dela, a reforma de Moro – que será enviada hoje ao Congresso –, que busca dar maior segurança à população, que, cansada da violência, acreditou nas propostas de Bolsonaro de acabar com a impunidade, inclusive da turma do colarinho-branco. A reforma que viria para moralizar a política brasileira – era o que diziam seus defensores –, dando legitimidade ao Congresso para mudar o país, ficou para as calendas gregas. Mudar para quê, devem estar a pensar os políticos. É sempre assim, o poder corrompe. É como diz a sabedoria popular: “Político é como macarrão, duro até entrar na panela, depois amolece”. Aí é só colocar o molho de interesse de cada um. Alguém mais fala em acabar com a reeleição? Não, o assunto só era importante quando o adversário monopolizava o poder. Agora, o grupo que chegou ao governo já concorda que quatro anos de mandato é muito pouco para promover as mudanças necessárias. É certo que elas são mesmo necessárias, mas precisam ser feitas com responsabilidade, não com pirotecnia dos grupos contra e a favor. De nada adianta fazer mudanças que não se sustentarão ou que, logo, precisarão ser revistas. Na Previdência, por exemplo, o governo vem defendendo modelos que já estão sendo revistos em seus países de origem. Mas é preciso mudar, dirão muitos, com a concordância de outros tantos. Sim, mas é preciso que se façam reformas consistentes. Já que o governo assumiu sem um projeto – assim como muitos governadores –, que aja com cautela, enviando ao Congresso uma proposta definitiva, sem questionamentos jurídicos, que possa atingir, senão o consenso, pelo menos uma maioria tranquila. É para não ficar como o “tear de Penélope”, que nunca termina, pois é tecido de dia e desmanchado à noite.

O que se vê no governo federal não é diferente do que ocorre nos Estados. Os governadores, e o de Minas é um deles, se mostram inteiramente perdidos, sem saber como tocar o barco, que sabiam fazendo água, mas desconheciam o tamanho do rombo no casco. O pior é que, além de quebrados, eles dependem de definições na área federal para traçar sua rota. Exemplos não faltam. Um: como vão estruturar a Previdência de seus servidores, o que vale também para os prefeitos? Como vão operacionalizar o programa de Moro na segurança? É que de nada adianta aprovar leis, por melhor que sejam ou pareçam ser, sem condições materiais e humanas para efetivá-las. É que às autoridades federais é permitido fazer poesia, criando leis absolutamente inexequíveis diante da realidade econômica e estrutural dos governos estaduais. Para agravar, como têm feito bobagem alguns governadores! Só fazem perder credibilidade diante de suas Assembleias, que, diga-se de passagem, não têm credibilidade alguma para aprovar medidas de maior profundidade. Diante do quadro atual, só rezando.

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