Paulo Cesar de Oliveira

O jornalista e empresário escreve na terça-feira

Economia para economistas

Publicado em: Ter, 16/04/19 - 03h00

Para muitos – inclusive para mim –, o presidente Jair Bolsonaro teve um gesto político ao não deixar que a Petrobras praticasse um reajuste de 5,7%, na semana passada, no preço do óleo diesel. Claro que o mercado não gostou da atitude presidencial, inclusive classificando-a como intempestiva e protecionista.

Na realidade, dentro da sua autoridade de presidente da República, Bolsonaro deu uma “freada” na greve dos caminhoneiros que parou a economia há um ano atrás. A atitude do presidente, tão criticada pelo mercado, sempre ele, foi, no entanto, precedida de uma conversa com seu ministro da Economia, que estava em Nova York.
Os riscos, mesmo que não pareçam, foram calculados. Atitudes como esta mostram o lado político de Bolsonaro, que, não à toa, chegou à Presidência da República. Claro que, neste início de governo, muitas cabeças estão batendo no governo, fruto da inexperiência política de um grupo formado, propositadamente, por pessoas sem os ranços do que se convencionou chamar de “velha política”. Bolsonaro, no entanto, acompanha tudo, e mesmo com alguma demora age, dentro da sua equipe, para conter os impulsos, como aconteceu com o ministro da Educação, mesmo que se reconheça que a escolha do substituto não tenha sido das melhores.

Outro ministro que parece estar no alvo do presidente, e ele já demonstrou, em Israel, ser bom no tiro, é o das Relações Exteriores. Ele tem se mostrado um radical, colocando em risco relações construídas durante anos pelo país, que sempre teve uma política de boa convivência e respeito com as demais nações.

Essa face política do presidente que ele vai revelando é que o levou a assumir a liderança das articulações para a aprovação da reforma da Previdência. Bolsonaro tem tido muitas conversas com parlamentares, inclusive da oposição sensata, para aprovar a reforma, tida como essencial para o país, mais cedo do que se pensa. A postura do presidente, mesmo que passível de críticas pelo aspecto econômico, precisa ser respeitada, politicamente. Ao agir assim, evitou, com certeza, prejuízos maiores a toda a economia, não apenas a um segmento, mesmo com a força dos investidores.

Fazer política é o exercício da arte do possível. É preciso saber o momento de avançar e o momento de recuar. Bolsonaro, repito, apesar das críticas dos investidores, soube o momento de dar um passo, mesmo que contestável, à frente. Terá, no entanto, que ter a sensibilidade de escolher a forma de reconstruir a confiança do mercado, pois o programa que defende, o de privatizar tudo, depende essencialmente da confiança dos investidores. 

Esse novo passo, certamente, será mais difícil. Mas, assim como o primeiro, é fundamental. Ninguém faz política, e essa advertência serve para muitos governadores, buscando o conflito. Capacidade de diálogo, paciência e saber compreender que nem sempre a razão está do nosso lado são virtudes de um político. Bolsonaro, parece, já entendeu isso.

 

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