Paulo Cesar de Oliveira

O jornalista e empresário escreve na terça-feira

Indefinição generalizada

Publicado em: Ter, 26/06/18 - 03h00

Estamos a exatamente 104 dias das eleições no Brasil, marcadas, em primeiro turno, para 5 de outubro, e em segundo turno, 21 dias depois. Até agora, ninguém se consolidou como favorito na sucessão presidencial. As pesquisas, antes mais raras e mais respeitadas, embora nem sempre mais certas, ainda não conseguiram definir um quadro pelo menos razoavelmente confiável sobre as candidaturas.

Os números ainda são pouco confiáveis, talvez exatamente pela pouca confiança que inspiram os candidatos que se mostram à frente na disputa. Na dianteira uns dos outros, mas bem atrás do desinteresse do eleitor, situação refletida na quantidade de indecisos, abstenções consolidadas e votos branco e nulos.

Já era tempo de termos uma candidatura favorita ou, no mínimo, uma polarização efetiva. Mas nada. Talvez o excessivo número de partidos envolvidos, cada qual falando numa candidatura, sinalizando com nomes incapazes de vencer uma disputa para síndico, esteja ajudando a tumultuar o processo. 

O que nos acostumamos a chamar de “partido”, no Brasil, não passa de um nome à procura de um balcão de negócios. Seus donos, fundadores ou não, usam a ameaça do nome próprio para aumentar o preço nas negociações de apoio, que, na prática, pode ser chamado também de “horário de propaganda no rádio e televisão”. 

Enquanto tivermos essa farra, não teremos campanhas sérias, com debates de propostas. Mas, nessa embolada, não podemos apontar o dedo apenas para os novos. PT, PDT e DEM, entre outros, também têm donos que fazem da sigla objeto de realização de seus desejos.

Enquanto isso, discutimos se Lula poderá ou não ser candidato. Se Geraldo Alckmin, que não consegue sair do solo, será ou não substituído por João Doria, hoje liderando pesquisas para o governo paulista. Se Bolsonaro avança e regride nas pesquisas ou se Ciro vai controlar a língua para não perder mais voto.

E ninguém fala na eleição para a Câmara e para o Senado, para os quais precisamos eleger gente séria, comprometida com as mudanças necessárias ao país. O que se desenha até aqui é muito ruim para as duas Casas. Pior para todos nós. 

Não é muito diferente do quadro federal o que se enxerga nos Estados. A influência do cenário partidário nas eleições talvez seja até pior e as chamadas “listas de candidatos” às Assembleias são de assustar. 

Na disputa pelo governo de Minas, parece, vai se consolidando a polarização PT/PSDB, com a disputa entre o governador Pimentel, que busca a reeleição, e o senador Anastasia, concentrando a atenção política. Marcio Lacerda, ex-prefeito de Belo Horizonte, que poderia ser uma opção, vai se perdendo na dúvida se será mesmo candidato ou se se torna vice de Ciro Gomes na sucessão presidencial. Mesma dúvida do MDB mineiro, que vive o dilema entre candidatura própria e apoio à reeleição de Pimentel. Os demais, inclusive Rodrigo Pacheco, do DEM, que chegou a aparecer bem, quando no MDB e com apoio de Anastasia, apenas compõem o quadro, com nomes na vitrine à espera de propostas atraentes.

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