Paulo Cesar de Oliveira

O jornalista e empresário escreve na terça-feira

Por que os condenados são só os empresários?

Publicado em: Ter, 21/03/17 - 03h00

Pelas Minas Gerais se diz que não passava de “foguete molhado” aquilo que se esperava fazer muito barulho, ser mesmo uma bomba, capaz de abalar estruturas. Não têm passado mesmo de “foguetes molhados” as listas do procurador Rodrigo Janot, ainda mais quando divulgadas, como tem ocorrido, em doses homeopáticas. Vão pingando nomes num processo que dá a impressão de ter sido minuciosamente pensado para produzir o resultado que tem produzido: a apatia popular. Se a intenção de anunciar listas com mais de meio mundo político envolvido era causar indignação, então “deu chabu”, ou deu errado, na expressão do nordestino.

Anunciar com muita antecedência uma relação de corruptos pegos com a boca na botija para depois colocar sigilo na lista tem efeito devastador na credibilidade da seriedade das investigações. O cidadão deixa de ter interesse no assunto e não acompanha seus desdobramentos. Habitua-se com os nomes e acaba achando até normal que os envolvidos sejam aqueles. Soma-se a isso a demora nos julgamentos, o que assegura aos envolvidos, por mais “cabeludos” que tenham sido os crimes cometidos, por mais evidente ou mesmo provada sua participação, o direito de disputar eleições, o que, no Brasil, é mais ou menos um passaporte para a impunidade.

Quem está envolvido em esquemas de corrupção já levantados e tem foro especial não será julgado em menos de quatro anos, que é o tempo médio do Supremo para analisar casos assim. Quem não tem o tal foro privilegiado, então, está ainda mais tranquilo. Vai ser julgado em primeira instância, não se sabe quando, e em segunda instância, no fim dos tempos.

É dessa forma que a roda da impunidade gira entre nós. Enquanto os aliados demoraram menos de um ano para julgar criminosos de guerra em Nuremberg, após a Segunda Grande Guerra, nós, em tempos de paz, demoramos anos e mais anos para julgar quem rouba dinheiro e esperanças dos brasileiros. Livres, certos da impunidade pela demora do Judiciário – um paquiderme incapaz de se desvencilhar da burocracia legal –, corruptos de todos os matizes têm ainda tempo para o exercício dos poderes que detêm de modificar as leis que os ameaçam. Se têm o poder e não encontram obstáculos para exercê-lo, por qual razão não fariam isso?

É exatamente isso que tramam agora, abertamente, e com a conivência de figuras ilustres, como Fernando Henrique e até o ministro Gilmar Mendes, de que os políticos não cometeram crime, apenas erraram ao usar o caixa 2 em suas campanhas. Crimes, parece, foram cometidos pelos empresários que alimentaram esses caixas 2, saída política genial apresentada por Márcio Thomas Bastos na defesa dos petistas, Lula inclusive (ou principalmente?) no escândalo do mensalão.

Dizem que a Justiça não protege os que dormem, e os corruptos estão bem acordados, tramando a anistia para os acusados de caixa 2, que, ao final, serão todos os políticos. Estão bem acordados e agindo, aproveitando enquanto a Justiça dorme. E como dorme.

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