PAULO DINIZ

A fé tucana

Para ser tucano em 2024, é preciso acreditar que uma “volta por cima não só é possível e viável, como também é uma questão de tempo

Por Paulo Diniz
Publicado em 09 de abril de 2024 | 06:00
 
 

Para ser tucano em 2024, é preciso acreditar que uma “volta por cima” não só é possível e viável, como também é uma questão de tempo. Essa crença é justificável quando se considera o passado do partido, que dez anos atrás dominava Minas Gerais como nunca havia ocorrido em tempos democráticos. Porém, quando o olhar recai sobre a última década, a fé dos tucanos na volta triunfal ao poder começa a ficar mais difícil de se sustentar: mesmo com nomes de peso no partido e um legado de realizações inigualável, os projetos político-eleitorais simplesmente não decolaram mais.

Talvez a parte mais desafiadora da fé tucana seja acreditar que as lideranças partidárias realmente estejam dispostas a lutar pelo poder. Em um partido que não se renovou nem quando ainda detinha o poder, as duras batalhas eleitorais para reconquistar o protagonismo devem ser conduzidas pelas lideranças das décadas de 1990 e 2000. O cansaço pessoal, então, cobra um preço alto, deixando o ressurgimento do partido sempre no limbo que separa as esperanças dos projetos.

O mais recente exemplo dessa dinâmica vem das pesquisas de intenção de votos para a Prefeitura de Belo Horizonte, que colocam o tucano João Leite em uma confortável posição de liderança. Esse tipo de perspectiva, no caso de Leite, não é mera conjuntura fugaz, mas sim, fruto de um sólido patrimônio político, construído em décadas de trajetória. João Leite é um nome conhecido e respeitado junto ao eleitorado – uma “marca forte”, como diriam os especialistas em marketing eleitoral.

Mais do que isso, João Leite pode ter a seu favor os trunfos que foram cruciais para levar Lula ao poder pela primeira vez, em 2002: a “segunda” chance dada pelo eleitor que, em outras ocasiões, havia optado por outros candidatos e, com o tempo se arrependeu; e, ainda, a percepção geral de que, afinal, havia chegado o momento de se colocar em prática as ideias que o candidato já vinha oferecendo em outros pleitos.

Essa hipótese faz sentido em um contexto de desgaste do fenômeno da direita bolsonarista: conservadora, religiosa, mas também despreocupada em oferecer soluções concretas para a população. O eleitorado conservador pode ver em João Leite um companheiro de ideais, dotado também dos diferenciais da sobriedade e de um importante passado como gestor público. Enfim, uma combinação difícil de se derrotar em 2024.

Em meio a essas considerações, muito favoráveis a João Leite, vem a clássica pergunta tucana: será que ele realmente quer assumir a cruzada para tentar a “volta por cima”? Depois de três disputas pelo comando da capital mineira, sendo duas delas com derrota no segundo turno, será que ainda resta brasa no coração de João Leite suficiente para tentar escrever mais um capítulo da saga tucana em Minas, desta vez com um desfecho feliz?

Quando surgem boatos de uma articulação em torno da vaga de vice, justamente ao lado de Bruno Engler, o candidato que representa a antítese do próprio João Leite, talvez até mesmo o tucano mais fervoroso perca a fé.