Paulo Diniz

Paulo Ricardo Diniz Filho é doutor em Ciências Sociais e bacharel em relações internacionais e administração pública

Conquistar a vitória nas urnas e levar a decisão para o Judiciário

Publicado em: Ter, 30/01/18 - 02h00

Lula condenado em segunda instância, e, enfim, a estratégia de defesa do ex-presidente assume quase inteiramente sua vertente política. Declarações pessoais e partidárias, sempre apaixonadas, buscam extrair do momento atual elementos para a construção de um cenário político que possa ser benéfico ao líder petista no futuro. Em termos simples, o plano sempre foi o de conquistar a vitória nas urnas e então esperar que, em novembro e dezembro próximos, as últimas instâncias do Judiciário se vejam pressionadas a autorizar uma eventual posse de Lula.

Em termos conceituais, a estratégia petista é razoável. Afinal, o Judiciário é feito de pessoas, e, por mais que seu funcionamento seja guiado por leis escritas, essas existem em número e variedade suficientes para dar fundamento às mais diferentes sentenças. Faz sentido esperar que uma hipotética vitória eleitoral de Lula, embasada em dezenas de milhões de votos, estimule algum dos magistrados das cortes superiores – sobretudo os de indicação política – a exercer um certo grau de criatividade na aplicação da lei ao caso do líder petista. Abrindo caminho pelo qual seus pares o pudessem acompanhar, esse juiz conquistaria seu lugar na história como garantidor da vontade política das multidões.

Os problemas principais que esperam Lula, entretanto, estão mais no campo da execução do que no do planejamento. A retórica agressiva utilizada pelo PT, acusando uma grande quantidade de pessoas e instituições de conspirar contra Lula, serviu para gerar antagonismos gratuitos e dificultar a conquista de aliados. Foi marcante a reação dos três desembargadores do TRF-4 contra as acusações feitas pelos defensores jurídicos e políticos de Lula ao Judiciário Federal: sendo servidores de uma carreira extremamente técnica, era de se esperar que não coadunassem com achincalhes à instituição da qual fazem parte. Radicalizando o discurso e pensando apenas na militância que já lhe era fiel, os petistas conquistaram desnecessariamente novas antipatias.

O outro ponto a ser considerado é a disputa eleitoral, da qual Lula poderá participar enquanto tramitarem recursos contra a sentença decretada em Porto Alegre. Essa não será uma campanha como as demais, já que os recursos financeiros disponíveis serão muito restritos, assim como a exposição em rádio e televisão. Os meios para que Lula explique ao público sua versão dos fatos, portanto, serão pequenos, enquanto a maioria dos demais candidatos buscará atacar o petista para conquistar parte de seu eleitorado.

No mesmo sentido, o PT deve encontrar dificuldade para reunir aliados, o que diminui desde a presença nos meios de comunicação até o número de cabos eleitorais atuando nas ruas. Essa debandada, que atinge até aliados históricos como o PCdoB, se deve à consideração de que não é razoável que os destinos de tantos atores e partidos políticos dependam apenas da trajetória pessoal de um indivíduo. O alto grau de personalismo que Lula imprimiu sobre seu partido e aliados, desde que chegou ao poder em 2003, já havia sido criticado por algumas vozes isoladas e cada vez menos parecia uma estratégia eleitoral sensata. Em 2018, os sinais parecem evidentes demais para que a maioria da esquerda continue apostando seu futuro unicamente em Lula.

O futuro político de Lula, portanto, é sombrio: nem tanto pelos obstáculos que terá pela frente, mas pelas dificuldades que seu grupo terá para vencê-los.Lula tem um plano: conseguirá executá-lo?

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