PAULO DINIZ

Muitos estranhos num só ninho: os rumos do PSDB para 2018

Redação O Tempo

Por Da Redação
Publicado em 05 de dezembro de 2017 | 03:00
 
 
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Há quase 15 anos sem comandar o Brasil, as lideranças do PSDB adotaram como praxe uma postura curiosa: comportaram-se, durante a maior parte desse período, como se fossem herdeiros de uma fortuna que não demandaria esforço para ser recebida. A julgar pelas ações gerais dos tucanos, é possível atribuir-lhes a lógica de que o passar do tempo seria suficiente para transformar o desgaste do PT na vitória do PSDB.

O tempo mostrou outro quadro: não apenas os tucanos não voltaram por inércia ao Palácio do Planalto, como os governos petistas tiveram fim por ação de seus próprios parceiros do PMDB. O PSDB virou governista, e uma avalanche de investigações e condenações por corrupção não deixou nenhuma corrente política tradicional ilesa.

Como resultado, uma conjuntura bem menos amigável para o PSDB: o patrimônio eleitoral antipetista, que nunca beneficiou os tucanos da forma como estes esperavam, agora tem pretendentes de peso na pessoa dos candidatos tidos como novatos, radicais ou antipolíticos. Tais figuras apostam no cansaço popular em relação à tradição política brasileira, que não apenas é vista como intrinsecamente corrupta, como acusada de entregar sempre menos à população do que o prometido nas campanhas eleitorais. Sob a bandeira da renovação, portanto, organiza-se uma nova geração de candidatos que buscam atingir não apenas PT e PMDB, parceiros de poder por anos, como também ferir gravemente o PSDB, percebido como parte essencial da política brasileira.

Diante dessas reviravoltas, nem mesmo o mais otimista dos tucanos poderia defender a estratégia de volta ao poder federal por inércia. Porém, em vez de traçar novos planos, o PSDB nacional desperdiçou 2017 numa luta fratricida, como herdeiros que partilham uma herança ainda muito incerta. Protagonista desse momento conturbado, o senador Aécio Neves, em luta desesperada pela sobrevivência política, articulou intensamente para manter o PSDB na base de sustentação do impopular governo Temer, contrariando boa parte de seus correligionários. No mesmo sentido, tomou atitudes drásticas para manter o controle da direção nacional do partido, em mais um lance que gerou divisões internas entre os tucanos.

Os movimentos mais recentes na política interna do PSDB, entretanto, apontam para uma definição: dois potenciais postulantes à chefia nacional do partido, Marconi Perillo e Tasso Jereissati, abdicaram de suas pretensões de poder em favor do governador paulista Geraldo Alckmin. Desfaz-se, assim, o polo de poder organizado por Aécio, algo que pressagia o rompimento formal do PSDB com Michel Temer.

Em termos gerais, a reestruturação do poder no interior do PSDB nacional é boa. Porém, apenas pode ser classificada como positiva na medida em que impede o naufrágio rápido e imediato das pretensões presidenciais tucanas de 2018. Ainda à tona, o PSDB continua a ter pela frente tarefas gigantescas, como a construção de carisma pessoal junto à população para o insosso e desgastado Geraldo Alckmin, pré-candidato presidencial que agora se torna nome hegemônico no partido.

O funcionamento da máquina partidária do PSDB, estrutura encarregada de engajar no esforço eleitoral os milhares de políticos eleitos pelo partido em todo o país, ainda é uma incógnita. Ganhar a adesão de prefeitos, vereadores, deputados estaduais e federais, uma tarefa normalmente desafiadora, em 2018 vai depender de uma profunda reconstrução do PSDB.