PAULO DINIZ

Recuperando experiências positivas do passado recente

É preciso resgatar o que há de bom no 'choque de gestão'

Por Da Redação
Publicado em 30 de outubro de 2018 | 03:00
 
 
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Durante cinco semanas, apresentei aqui uma série de artigos intitulada “Para o próximo governador”, voltada para qualquer que fosse o escolhido pelo povo mineiro para comandar nosso Estado pelos próximos quatro anos. Nesses textos, foram apresentadas recomendações para a próxima gestão estadual, voltadas não apenas para a inovação na solução de problemas da gestão mineira, como também para novos enfoques sobre temas tradicionais que vêm sendo negligenciados nos últimos anos.

Hoje, sabemos que será Romeu Zema o responsável por guiar os mineiros até 2022, partindo de uma situação de absoluto caos financeiro e desordem administrativa. Neste momento de reconstrução, é importante considerar não apenas os desafios do futuro, mas também os ensinamentos que o passado pode proporcionar.

Durante a disputa por eleitores, a propaganda de Anastasia não mencionava a principal marca das administrações tucanas em Minas, o então chamado “choque de gestão”. Do ponto de vista eleitoral, esse foi um movimento inteligente, pois assim o tucano evitaria se expor novamente ao glossário de críticas desenvolvido pelo PT contra esse conjunto de medidas aplicado entre 2003 e 2014. Por mais que boa parte de tais críticas tivesse pouca ou nenhuma profundidade e embasamento, mesmo assim conseguiram a atenção do eleitor em 2014, certamente por representar alternativa a um discurso tucano que já se mostrava desgastado.

Agora, que a política eleitoral está encerrada, é momento de fazer as pazes com o passado, resgatando o que há de positivo na experiência do “choque de gestão”, e, assim, buscar escapar da tradicional armadilha dos novos governos: a tentação de querer imprimir uma marca própria, descartando as ações dos antecessores.

Amplamente divulgado como algo que nunca foi – um plano articulado de reforma do Estado –, o “choque de gestão” trazia, na verdade, alguns elementos pontuais de gestão inovadora, mas que não se conectavam. Seu núcleo central, o gerenciamento de projetos considerados vitais, é útil na medida em que potencializa a capacidade de ação do Estado, mas deve ser reestruturado para que consiga produzir resultados sem a garantia prioritária de recursos que vigorou durante as administrações tucanas. Nesse caso, produzia-se uma falsa impressão de eficiência, que aparecia muito mais intensa do que a realidade, além de levar à escassez de recursos em outras áreas de atuação do Estado – consideradas não prioritárias pelos grão-gestores das administrações tucanas, mas ainda assim necessárias à população.

Outro elemento que merece uma segunda chance é a metodologia de avaliação de desempenho de órgãos públicos e de seus servidores, chamada “Estado para Resultados”, que foi capaz de fazer parecer que os demais Estados brasileiros, e mesmo o governo federal, estivessem vivendo a Idade da Pedra em comparação com as práticas de gestão adotadas em Minas entre 2003 e 2014. Entre outros resultados mais evidentes, essa prática levou à criação de uma revigorada cultura de comprometimento e produtividade entre os servidores mineiros, que se encontra hoje pronta para ser revivida.

Recuperar esses exemplos positivos, que não necessariamente levam a gastos adicionais, figura como ponto de partida crucial para a construção de uma administração estadual organizada. Esperamos que, a partir de 2019, a triste tradição de descontinuar práticas de sucesso de governos anteriores possa ser quebrada em Minas Gerais.