Eleições

Sabe bater

Gabriel Azevedo entra na disputa pela PBH em boas condições, pois traz propostas aos montes para a capital

Por Paulo Diniz Filho
Publicado em 12 de março de 2024 | 03:00
 
 

Vários artigos já foram escritos para esta coluna sobre Gabriel Azevedo, presidente da Câmara Municipal de Belo Horizonte. Nenhum desses chegou a ser publicado. A prudência aconselha que, quando o assunto é Azevedo, convém esperar um pouco antes de dar o texto por concluído – como forma de evitar que alguma reviravolta dos fatos torne a análise subitamente obsoleta.

O evento mais recente foi a filiação de Azevedo ao MDB, acompanhada do apoio de uma constelação de estrelas desse partido. Gabriel também assumiu sua pré-candidatura à Prefeitura de Belo Horizonte – um projeto que andava na geladeira desde as tentativas de cassação de seu mandato. Como de costume, vale a pena avaliar o impacto que pode ter mais essa candidatura na disputa pelo comando da capital – com direito a surpresa no final.

Em várias outras ocasiões, já foi apresentada nesta coluna a leitura segundo a qual as eleições de 2024 em Belo Horizonte vão transcorrer em torno de propostas. A campanha vitoriosa de Lula e seu primeiro ano de mandato trataram de entregas que o poder público tem a obrigação de fazer aos cidadãos – algo que vem recordando a milhões de eleitores a respeito da ineficácia da pauta de costumes defendida pela direita bolsonarista.

Nesse contexto, Gabriel Azevedo entra na disputa em boas condições, pois traz propostas aos montes para Belo Horizonte. Inclusive, mesmo estando no Poder Legislativo, já conseguiu levar adiante propostas significativas, como a recriação da praça da Independência, tarefa de vulto assumida pela prefeitura após insistência de Azevedo. Gabriel Azevedo também se envolveu profundamente na luta pela manutenção do valor básico da tarifa de ônibus em R$ 4,50 durante quase todo o ano de 2023.

Um desafio para Gabriel Azevedo será o de superar o estigma que vincula sua imagem à classe média da zona Sul da capital. Nada pejorativo, porém esse jeito específico de ser pode legar a Gabriel os tradicionais 2% do eleitorado que costumam votar no Partido Novo – sem que haja gravidade suficiente para ir muito além disso. É preciso carisma para superar esse rótulo, que impõe barreiras geográficas e sociais.

Entretanto, o impacto mais importante da entrada de Gabriel na disputa pré-eleitoral está relacionado com sua capacidade destrutiva. Gabriel Azevedo sabe bater, e, mesmo que não consiga reverter para seu benefício o sofrimento do adversário, ainda assim o estrago sobre imagens e reputações alheias é significativo.

Contando com a vitrine do horário eleitoral gratuito, por exemplo, Gabriel Azevedo poderá atrair seus adversários para o embate, o que os obriga a modificar seus planos de campanha.
Para lidar com esse fator, os demais pré-candidatos devem ser muito ágeis, identificando suas próprias fragilidades pessoais e lançando narrativas que esgotem tais assuntos – antes que esses sirvam de matéria-prima para os ataques de Azevedo. Tarefa difícil, que requer agilidade, autocrítica e envolve o risco constante de não exagerar na exposição dos próprios defeitos.