Paulo Paiva

Professor associado da Fundação Dom Cabral, Paulo Paiva escreve às sextas-feiras

Aberta a temporada eleitoral de 2018 no Brasil e em parte do mundo

Publicado em: Qua, 10/01/18 - 02h00

Se se considera um indicador de democracia a escolha dos titulares dos Poderes Executivo e Legislativo por meio do voto popular, pode-se dizer que o mundo nunca foi tão democrático como nessas primeiras duas décadas do século XXI. Expressiva maioria dos mais de 7 bilhões de pessoas que vivem na Terra tem atualmente a possibilidade de escolher os dirigentes de seus países.

No entanto, nos últimos anos, a rápida expansão em várias regiões de lideranças populistas associadas à difusão do nacionalismo e da xenofobia tem suscitado debates sobre os riscos do futuro da democracia, em razão dos possíveis impactos dessas tendências, tanto na política doméstica quanto nas relações internacionais, gerando incertezas e preocupações quanto ao equilíbrio político entre as nações.

Este ano será um importante teste para a democracia. Cinco dos mais populosos países no mundo – Rússia, Brasil, Paquistão, Bangladesh e México – escolherão seus presidentes ao longo deste ano. Conjuntamente, essas nações somam mais de 800 milhões de pessoas, que correspondem a duas vezes e meia a população dos Estados Unidos. Levando-se em conta, ainda, os escrutínios recentes na Índia e na Indonésia, pode-se afirmar que o futuro de um terço da população mundial dependerá dos resultados das urnas em 2017 e 2018 – fenômeno sem precedentes na história da humanidade.

Na América Latina, o mapa político pode também sofrer mudanças. Com as eleições no Chile, no final do ano passado, que devolveu a Presidência para Sebastián Piñera, e além dos pleitos no Brasil (outubro) e México (julho), o calendário eleitoral da região registra eleições presidenciais na Costa Rica (fevereiro), no Paraguai (abril), na Colômbia (maio) e, encerrando o ano, na Venezuela, se nada de extraordinário acontecer neste país até lá.

A temporada eleitoral deste ano se concentrará em países emergentes cujas economias dependem em grande medida do comércio internacional e exibem altos índices de desigualdade. Alguns países, como Bangladesh e Índia, estão em fase de expansão econômica; outros, como os latino-americanos, com economias vulneráveis, têm altos índices de desemprego. Em todos eles, serão fatores preponderantes para as decisões dos eleitores o desempenho econômico e o papel das redes sociais na divulgação de informações, corretas e falsas, sobre candidatos e as condições econômicas e sociais do país.

Em quase todos os países, a corrupção é endêmica, comprometendo a legitimidade dos resultados. Mas, como a corrupção abrange tanto a situação quanto a oposição, os eleitores não a consideram elemento decisivo em suas escolhas, como no caso do Paquistão, conforme apontam analistas. No Brasil, ao contrário, pesquisas indicam que a corrupção tem aumentado a rejeição aos políticos e poderá estimular abstenções e votos nulos e em branco.

Além dos temas comuns, há questões nacionais relevantes que afetarão as escolhas nos diferentes países. Por exemplo, no caso da Colômbia, o compromisso do governo e das Farc em relação ao acordo de paz de 2016 ou, do México, o peso da relação com o governo Trump.

No Brasil, algumas definições importantes ocorrerão em breve, como o resultado do julgamento do ex-presidente Lula em segunda instância, que afetará a estratégia da oposição, e o desempenho da economia, que poderá contribuir para dar ao presidente Temer algum protagonismo na decisão da escolha do candidato que vier a representar a coalizão de seu governo.

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