PAULO PAIVA

Compromissos e preocupações

A tradição brasileira foi rompida pelo presidente Jair Bolsonaro

Por Da Redação
Publicado em 25 de janeiro de 2019 | 03:11
 
 

A tradição brasileira foi rompida pelo presidente Jair Bolsonaro. Até então, a primeira viagem ao exterior de um presidente eleito era ir, ainda antes da posse, à Meca do capitalismo global e capital dos Estados Unidos, Washington. O futuro mandatário se encontrava com autoridades do governo americano e das agências multilaterais, como FMI, Banco Mundial e BID. Lula, quando foi, não visitou o FMI.

Bolsonaro não foi ao exterior antes de sua posse. Apresentou-se agora para os responsáveis pela economia e pela política no mundo. Apresentou-se no Fórum Mundial de Davos, reconhecido como o principal evento anual que reúne os responsáveis pela ordem global, quer governantes, quer executivos do setor financeiro e das grandes corporações multinacionais, quer ainda da mídia internacional.

Nesse evento, a participação efetiva e formal dos presidentes é fazer um discurso apresentando seu país e discutindo seus principais desafios. Dependendo da fluência na língua inglesa, alguns chefes de Estado participam de painéis que discutem temas específicos.

O presidente Bolsonaro cumpriu sua tarefa de maneira adequada. Apresentou seu cartão de visitas, que me faz lembrar a carta aos brasileiros divulgada por Lula antes de sua eleição. O simbolismo de sua presença em Davos e o seu discurso representam claro compromisso com o mercado e um convite aos investidores para considerarem o Brasil um território seguro para fazer negócios. Bolsonaro combinou a orientação macroeconômica liberal com a abertura comercial e, o que foi novidade, com a responsabilidade ambiental, ao afirmar que “nossa missão agora é avançar na compatibilização entre a preservação do meio ambiente e da biodiversidade com o necessário desenvolvimento econômico, lembrando que são interdependentes e indissociáveis”.

Em relação à integração do Brasil ao mundo globalizado, disse que buscará incorporar as melhores práticas internacionais, adotadas e promovidas pela OCDE, e fazer “uma defesa ativa da reforma da OMC, visando eliminar práticas desleais de comércio e garantir a segurança jurídica das trocas comerciais internacionais”.

Um discurso nos termos corretos para o público externo e que não revela nenhuma orientação populista de seu governo.

Relevante para o Brasil não foi apenas o que Bolsonaro levou para Davos, mas o que ele trouxe de lá.

A passagem de Bolsonaro pelo rigoroso inverno suíço deu-lhe a oportunidade de avaliar a dimensão do Brasil no contexto internacional. Isso, sim, é uma preocupação e um constrangimento. Em nenhum painel do programa oficial havia a participação de um brasileiro, inclusive no que tratou da corrupção, mesmo com o ministro Sergio Moro por lá. Constrangimento também ficou nas cadeiras vazias da entrevista coletiva que não houve.

A economia brasileira, embora entre as dez maiores do mundo, tem apresentado crescimento pífio. Nas duas últimas décadas, a renda per capital cresceu 1,6% ao ano. O país nem mesmo é citado nas avaliações sobre tendências econômicas ou políticas mundiais.

A economia e o fluxo internacional de comércio estão em processo de desaceleração. A queda da expansão chinesa deverá continuar nos próximos dois anos. As incertezas e os riscos estão concentrados, principalmente, nas tensões comerciais entre Estados Unidos e China e no comportamento do mercado financeiro.

A adversidade do ambiente externo poderia dar um pouco mais de realismo ao governo Bolsonaro e aos políticos sobre a necessidade de mais diálogo e de cooperação no âmbito doméstico para efetivamente mudar o rumo do país.

O tempo dirá.