Paulo Paiva

Professor associado da Fundação Dom Cabral, Paulo Paiva escreve às sextas-feiras

De olho no dia da independência

Publicado em: Sex, 03/09/21 - 04h00

Aproximamo-nos do dia 7 de setembro, que, neste ano, em vez de ser palco das comemorações da Independência, será arena de disputas políticas. Desprezando os riscos de aglomerações, o presidente Bolsonaro está convocando seus seguidores para reafirmarem apoio à sua pessoa, para afrontarem os outros Poderes da República e para assistirem à exibição de seus arroubos autoritários. Por outro lado, vários de seus opositores estão se mobilizando para no mesmo dia protestarem contra seu governo. Trocam-se manifestações cívicas por embates políticos.

Os sinais de que o país não caminha em paz são muitos. Neste espaço, já mencionei dois eventos inusitados. Uma reunião em que, demonstrando desconforto com as relações entre os Poderes Executivos estaduais e o federal, os governadores solicitaram, sem êxito, encontro com o presidente Bolsonaro; e as consultas feitas isoladamente por cinco ex-presidentes, por meio de suas fontes, a altas patentes militares sobre riscos de ruptura institucional.

Há poucos dias, manifestos de empresários expressando preocupações com a situação do país pediam respeito ao Estado democrático de direito e paz e tranquilidade para o país desenvolver-se econômica e socialmente. Esses manifestos, com afirmações óbvias, geraram duras reações críticas do governo.
Historicamente, o sucesso do autoritarismo tem sido associado à habilidade de seus líderes em extrair da verdade factual sua própria opinião, como observou Hannah Arendt, criando fatos alternativos que, modernamente, são difundidos nas redes sociais. Por aqui, abundam exemplos, basta lembrar as mentiras do presidente Bolsonaro afirmando que os outros Poderes não o deixam governar, que o aumento do preço de combustíveis é responsabilidade dos governadores e que as eleições são fraudadas.

O simbolismo em política também diz muito. As atitudes do presidente são de confronto. Algumas vezes contra inimigos imaginários, como o comunismo e o globalismo, outras vezes contra as instituições, como os Estados e municípios, o Judiciário e o Legislativo, outras, ainda, contra indivíduos. O presidente vê fantasmas por toda parte. Enfim, usa o conflito ao limite como arma de estratégia política.

Outro aspecto do comportamento do presidente indicando sua personalidade autoritária é a usurpação dos símbolos da pátria. Apropriou-se das cores verde e amarela, da bandeira nacional e dos hinos oficiais como propriedades suas, confundindo o público (o Estado) com o privado (a pessoa do presidente). Não é sem propósito que usa expressões como “eu sou a lei”, “meu exército”, “meu povo”.

No dia 7 de setembro, o país será posto à prova. Estará exposto à violência, ao ódio e à intolerância, que são os males cruéis desses tempos, ou, ao contrário, assistirá a manifestações de rua ordeiras e pacíficas, como convém a um país democrático? A ver.

 

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