Paulo Paiva

Professor associado da Fundação Dom Cabral, Paulo Paiva escreve às sextas-feiras

Eleições

Dos mistérios de Minas

Publicado em: Sex, 12/08/22 - 03h00

O debate da TV Band Minas com os candidatos a governador abriu a campanha eleitoral no Estado. Dos postulantes convidados, apenas o governador Romeu Zema (Novo) não deu o ar de sua graça.

Pela primeira vez, desde a redemocratização, o PT não lança candidato ao governo estadual. Sua estratégia atual é manter dois palanques. À esquerda, com a candidata do PSOL, Lorene Figueiredo, professora da UFJF, cujo discurso busca mobilizar os movimentos sociais mais radicais, e, à direita, com Alexandre Kalil, ex-prefeito de Belo Horizonte, a abrir-lhe as portas da capital visando a atrair eleitores de centro-direita que rejeitam Bolsonaro.

Bolsonaro também terá dois palanques. Constrangido, do seu partido, o PL, com o senador Carlos Viana, que depende dos votos dos bolsonaristas, e, esperançoso, do governador Zema, que será discreto no primeiro turno, porque o Novo tem candidato próprio para presidente. Os destinos de Zema e Bolsonaro estão entrelaçados. Será novamente o BolsoZema.

Simone Tebet não terá nenhum candidato a governador para lhe acolher em Minas. Viu-se traída por sua própria coligação. Seu partido (MDB), que apoia Zema (Novo), e a Federação PSDB-Cidadania ficaram com Ciro Gomes (PDT). Assim, Ciro terá o MDB e o PSDB para lhe ajudar a crescer em Minas, enquanto Simone andará só ou com militantes que estão mais próximos de Bolsonaro.

O PSDB optou por uma chapa puro sangue para o governo estadual com a competente dupla Marcus Pestana-Paulo Brant para uma aventura solo. E Kalil, Viana e Zema querem dos candidatos à presidente transferência de seus votos.

A pesquisa estimulada do DATATEMPO sugere que, como no cenário nacional, a eleição mineira está circunscrita à polarização entre Zema (48%) e Kalil (23%), que juntos somariam 71% das preferências dos eleitores. No entanto, o resultado da pesquisa espontânea indica que a eleição em Minas ainda estaria indefinida, pois mais da metade dos mineiros (53%) ainda não sabem, não responderam ou, mineiramente, não querem dizer, e outros 10% rejeitam todos os candidatos. Zema (26%) e Kalil (10%) chegam a apenas 36% das preferências.

Buscando mostrar outra maneira de fazer política, não beligerante, mas de diálogo e entendimento, e iluminar uma via para o futuro, que não seja um simples atalho para o passado, mas soluções factíveis para os desafios contemporâneos, que sensibilizem a alma e os corações mineiros, Pestana, inspirando-se em Tom Jobim, crê que a alta porcentagem de eleitores indecisos poderá ser a chuva boa criadeira que fará crescer com votos sua roseira.

Por fim, dois ex-governadores, Aécio (PSDB) e Pimentel (PT), aproveitam o momento para garantir suas cadeiras na Câmara de Deputados, evitando voos majoritários, pois que temem o fantasma Dilma.

Minas ainda guarda em seus casarões centenários seus mistérios e suas traições.

---

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo mineiro, profissional e de qualidade. Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar.

Siga O TEMPO no Facebook, no Twitter e no Instagram. Ajude a aumentar a nossa comunidade.