Paulo Paiva

Professor associado da Fundação Dom Cabral, Paulo Paiva escreve às sextas-feiras

Indefinições e incertezas no meio da ponte para o futuro

Publicado em: Qua, 13/06/18 - 03h00

A cada quatro anos, dois eventos mobilizam a população brasileira, a Copa do Mundo e as eleições presidenciais. Neste ano, nem um, nem o outro estão motivando as pessoas, como ocorria no passado. 

Mesmo a seleção brasileira sendo considerada favorita como nunca antes na história da Copa, não se veem tantas bandeiras agitadas pelas ruas, tampouco buzinaços ou pessoas exibindo com orgulho a amarelinha, outrora tão querida.

Mesmo com a economia retomando seu crescimento, após a maior recessão já registrada, inflação abaixo da meta estabelecida pelo governo e taxa básica de juros no mais baixo patamar de sua história, não há também nenhum entusiasmo com as eleições e com os políticos que buscam a confirmação de suas candidaturas nas convenções partidárias que virão depois da Copa. 

Pessimismo, desconfiança, desilusão e incertezas dominam a alma e as mentes dos brasileiros.

Nos próximos 30 dias, a Copa ocupará os espaços na mídia, nas redes sociais e nas conversas nas mesas dos bares e dos botequins. Enquanto isso, pré-candidatos entram na fase decisiva para definir alianças e avaliar se valerá a pena se manter na disputa. 

No domingo passado, foi publicada pesquisa eleitoral do instituto Datafolha. De cada dez brasileiros, apenas três indicaram espontaneamente o candidato em que votarão para presidente; isto é, 70% dos brasileiros não sabem em quem votar ou votarão em branco ou nulo. Nas pesquisas estimuladas, nas quais é apresentada uma lista dos possíveis candidatos, o total de votos em branco e nulos (33%) liderou em todas, exceto quando Lula foi incluído. Nesse cenário, o percentual de brancos e nulos (21%) ficou em segundo lugar. Insofismável evidência de que há rejeição aos políticos.

Na pesquisa espontânea, de setembro de 2017 até agora, Lula caiu de 18% para 10%, refletindo sua esdrúxula situação de candidato condenado e encarcerado. No mesmo período, Bolsonaro subiu de 9% para 12%. Na pesquisa estimulada, os dois somam 47% das intenções de voto e, nas condições atuais, teriam assegurado suas participações na decisão do segundo turno. Lula com 30% e Bolsonaro com 17% repetem a votação em 1989, no primeiro turno, de Collor e Lula, respectivamente.

A menos que aqueles eleitores ainda resistentes se convertam para um dos outros candidatos, a tendência está indicando uma eleição polarizada em candidaturas populistas com perfil messiânico de salvadores da pátria.

A competitividade de uma candidatura de centro (qualquer que seja a definição que se queira dar a isso) está se tornando difícil. Nenhum dos candidatos tem demonstrado potencial eleitoral. Alckmin, o de melhor desempenho entre eles, está estacionado em 7% das intenções de voto. 

Ciro Gomes e Marina Silva poderão ser as alternativas, quer à esquerda, se Lula não obtiver o registro de sua candidatura, quer ao centro, se o PSDB vestir as sandálias da humildade e apoiar Marina Silva, dando-lhe a estrutura partidária e o apoio regional que lhe faltam. 

As candidaturas de Henrique Meirelles e Rodrigo Maia tenderão a se desidratar até as convenções partidárias.

A decisão do PT será o principal fator a alterar as tendências atuais. A opção por outra candidatura do próprio partido tenderá a igualá-lo aos menos votados, correndo sério risco de não seguir para o segundo turno. A manutenção da candidatura de Lula, preso e sem registro no TSE, poderá arranhar a legitimidade das eleições e aumentar ainda mais as incertezas sobre o futuro do país. 

Quem sobreviver à Copa verá.

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