PAULO PAIVA

O número e seus simbolismos

Neste ano, o povo brasileiro terá duas disputas a vencer, a política e a Copa do Mundo

Por Da Redação
Publicado em 07 de janeiro de 2022 | 05:00
 
 

O cantador anuncia a pedra: “Dois patinhos na lagoa”. Você sabe o número que saiu? Bingo! Pois, então. O ano entrante tem seus simbolismos, da Independência à Semana de Arte Moderna. Em 2022, duas disputas serão decisivas, a da liberdade e a do orgulho.  

Como um Império Constitucional e uma economia liberal, em 1822, a nação brasileira nascia fruto da Revolução Francesa, que constituiu o Estado Democrático de Direito, e da Revolução Industrial, que transformou a economia de mercantil a industrial. Os ideais de liberdade, justiça, igualdade e fraternidade formaram as aspirações que conquistaram o mundo ocidental e, há 200 anos, empolgaram as elites e o povo brasileiro. A independência simbolizou a liberdade da nova nação, cujo sonho, brotado em Minas Gerais, fora interrompido anteriormente pela opressão portuguesa, em 1789.  

Cem anos depois, logo em fevereiro de 1922, passado o medo deixado pela pandemia da gripe espanhola com seus rastos de morte, em São Paulo florescia uma nova fase da cultura brasileira, conjugando a busca da identidade nacionalista nas raízes do novo país com os ares revolucionários modernistas, que chegavam da Europa. A Semana de Arte Moderna reuniu as produções artísticas mais impactantes daquela época no Brasil. 

Foram expoentes desse movimento inovador, cujo simbolismo marcou profundamente a história cultural do país, pessoas tão singulares e díspares como Villa-Lobos e Guiomar Novaes, na música, Mario e Oswald de Andrade, Minotti Del Pichia, Plínio Salgado e Guilherme de Almeida, na literatura, e Lasar Segall, Tarsila do Amaral, Anita Malfatti e Di Cavalcanti, nas artes plásticas.  

Novamente, chega 22. O do século XXI, no meio de outra pandemia, que agora promete continuar contaminando os brasileiros, e de incertezas econômicas e políticas, tudo gerando medo e descrença. Olhando para trás, percebe-se que a independência não foi para todos. Os afrodescendentes, libertos formalmente, não o foram, efetivamente; a igualdade é um chavão retórico, que o digam as mulheres e os pobres que precisam disputar alimentos no lixo. Onde foi parar a dignidade humana?  

Neste 22, torna-se urgente unir o passado ao sonho de futuro, buscando ressignificar a Independência e o movimento modernista. Que o passado inspire o presente a encontrar os reais significados de liberdade, justiça, igualdade e fraternidade. Que o passado ilumine o caminho para as novas expressões de artes que representem a riqueza das diversidades dessa nação. Que o presente não leve para o futuro o individualismo egoísta, o ódio e a mentira que sufocam os sonhos de liberdade e igualdade da gente brasileira. Que a pacificação, o diálogo e a solidariedade pavimentem o caminho para o futuro.  

O povo brasileiro terá duas disputas a vencer, a política e a Copa do Mundo. Que 22 seja o seu número de sorte.