Paulo Paiva

Professor associado da Fundação Dom Cabral, Paulo Paiva escreve às sextas-feiras

O vale-tudo esquenta em março e vai até as eleições de outubro

Publicado em: Qua, 28/02/18 - 04h00

Passado o Carnaval, o ano começou efetivamente. As eleições vão tomando posse da atenção dos políticos. A ação administrativa do governo chega a seus estertores.

A reforma e o calendário eleitoral reservaram para a política um enorme vale-tudo em março. Depois, a data final para o registro de candidaturas será 15 de agosto. Somente então o povo será chamado a se manifestar em outubro. Até lá o jogo será jogado pelos políticos e pela Justiça.

Quem quiser disputar um cargo eletivo deverá estar filiado a algum partido. Não há previsão na legislação brasileira para candidaturas independentes. Assim, potenciais pretendentes terão que correr atrás de uma legenda, como o ex-ministro do STF Joaquim Barbosa. Também Jair Bolsonaro terá que encontrar guarida em um partido que tenha número suficiente de deputados para oferecer-lhe acesso à televisão e participação nos debates. O prazo se encerra no início de abril, e os candidatos à Presidência se movimentam freneticamente.

Alguns, precisando deixar seus cargos até 7 de abril, não poderão adiar suas decisões, como Henrique Meirelles, que estuda ainda mudar de legenda. Michel Temer e Rodrigo Maia, ao contrário, terão mais prazo para avaliar suas possibilidades e angariar apoios, porque poderão permanecer em seus postos; no entanto, adotam estratégias diferentes. Enquanto Temer se esforça com medidas de impacto à espera de melhor hora para anunciar sua decisão, Maia lançará sua candidatura no início de março. Lula e Alckmin já estão definidos.

Nas próximas semanas, também se intensificará o jogo das trocas de legenda de parlamentares. Estimado em aproximadamente R$ 2 bilhões, o novo fundo eleitoral, cuja distribuição é diretamente proporcional ao número de deputados, somado ao já existente Fundo Partidário, constitui-se em um forte poder de convencimento para partidos atraírem atuais deputados com maior potencial de votos. Partidos, procurando aumentar suas bancadas na próxima legislatura, e deputados, buscando recursos para financiar suas campanhas, nessa hora se unem despudoradamente, sem ética e sem compromissos.

A Câmara transformou-se em um campo fértil de negócios de ocasião. O MDB, por exemplo, comprometeu-se a transferir R$ 1,5 milhão para cada um de seus deputados, mesmo aos que se filiarem nessa “janela de trocas”. Vale tudo nesse varejão amoral. Em alguns casos, é oferecida até a presidência de diretório estadual. Os partidos menos atraentes são os que já têm candidatos à Presidência da República, como PT e PSDB, porque terão que reservar parte considerável do fundo eleitoral para a campanha majoritária.

O imponderável estará na Justiça, sem prazo para decidir os intermináveis processos e recursos de inelegibilidade de candidatos potencialmente enquadrados nas restrições da Lei da Ficha Limpa, com Lula puxando a fila dos fichas-sujas.

No princípio de abril, estará montado o xadrez do jogo eleitoral. Partidos e políticos, organizados para se salvarem, utilizam-se das mesmas práticas e dos mesmos vícios tantas vezes rejeitados nas ruas, quando a sociedade clamou por mais ética na política e mais respeito com as pessoas, apoiando a operação Lava Jato.

É triste, mas é a realidade; não se anteveem mudanças significativas. Esse vale-tudo deixa no povo o sentimento amargo de que malas cheias, apartamentos, sítios e polpudas contas no exterior continuarão comandando o jogo político e de que seu grito de indignação foi em vão.

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